Por Ivanaldo Mendonça — O forte apelo do tempo de preparação para a celebração da Páscoa, a quaresma, é que o homem de fé estabeleça, com seu criador, uma relação íntima e profunda, geradora de contínua transformação. Esta íntima relação acontece em dois níveis: pessoal e relacional.

Como extensão da intimidade com Deus deve, também, o homem de fé, abrir-se aos irmãos, sendo instrumento que promove fraternidade.

Para melhor compreensão o processo de crescimento e amadurecimento espiritual pode ser sistematizado segundo vários modelos de cultivo da espiritualidade cristã. Inspirados no tema ‘Nos passos do Senhor’, a partir de Jesus Cristo, propomos reflexão e ação, através de gestos simples, que, cultivados continuamente, sejam assimilados pelo ser e vivência dos que se dispõe a percorrer o caminho.

Voltar-se para Deus é o primeiro movimento necessário; Deus está sempre voltado a todos e cada um de nós.

O segundo movimento do processo de conversão é ‘Abrir-se a ação de Deus’. O Evangelho de Marços ajuda-nos a compreender esta necessidade: Jesus levou a uma alta montanha três de seus discípulos, onde transfigurou-se diante deles; uma nuvem os cobriu e dela uma voz disse: “Este é meu filho amado, escutai o que ele diz”. Pedro sugere que fiquem ali. Na descida, Jesus recomenda que nada contém a ninguém até que Ele ressuscite dos mortos (Mc 9, 2-10).

O episódio, teologicamente rico, sugere elementos importantes. A montanha é lugar de oração e encontro com Deus; a transfiguração de Jesus prenuncia Sua ressurreição; Moisés e Elias testemunham o cumprimento das promessas do Antigo Testamento; na voz que sai da nuvem, o próprio Deus garante a vitória de Cristo; a reação de Pedro expressa o quanto o homem demora para compreender; o pedido de Jesus, que nada dissessem, revela o desfecho da história da salvação, Sua morte e ressurreição.

Abrir-se a ação de Deus envolve a totalidade do ser: é deixar-se alcançar pelos raios do Seu amor que rompem toda treva e escuridão; é subir a montanha deixando para traz tudo o que impede-nos de ser melhor; é vencer desejos, apegos que seduzem-nos a querer tudo para nós, do nosso jeito; é acolher, com fidelidade, inclusive, sofrimentos e dores, medida do nosso amor e entrega; é descer a montanha e ser, discretamente, por gestos, palavra e ações, testemunhas viva da presença e ação amora de Deus.

Perseveremos, confiantes, nos passos do Senhor! Abramo-nos à ação de Deus!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

ivanpsicol@hotmail.com