Ivanaldo Mendonça — Nascer e morrer estão entre as poucas certezas que, de fato, temos. Num determinado momento da história através da concepção, recebemos o dom da vida. Nascemos! O ventre materno é nossa primeira hospedaria. Passados nove meses, o parto marca nossa apresentação oficial às pessoas, aos pais, à família, ao mundo… Num determinado momento da história, razões naturais, como a idade avançada, ou acidentais, como as fatalidades, sinalizam o cessar das atividades biológicas necessárias à manutenção da vida humana. Morremos!

selo-ivanaldo2Aprendemos, desde crianças, que nascer e morrer faz parte da vida. O nascimento é sempre uma novidade de alegria, de ‘ganhar’ o ser amado; a morte é sempre uma novidade de dor, de ‘perder’ o ser amado. Embora existam razões científicas suficientes para justificar a morte, registradas num atestado, ninguém, embora sabendo e entendendo, se conforma com a morte do ser amado. Porque, se seria tão simples e óbvio? Eis a questão!

Existem em nós realidades que ultrapassam o físico: nós temos corpo material, como têm os objetos, mas não somos apenas matéria; nós temos vida biológica, como têm as plantas, mas não somos apenas vida biológica; nós temos alma (palavra latina, ‘anima’, que significa movimento; todo ser que se move tem alma), como têm os outros animais, mas não somos apenas alma. Além de matéria, vida e alma, o ser humano é dotado da natureza espiritual, que nos concede a capacidade de pensar e comportamento responsável.

vida morte

A sensação de ‘perda’ que a morte desperta em nós evidencia que a existência humana significa muito mais, muito mais que alcançamos e compreendemos. É difícil aceitar a morte porque amamos e, o amado, ocupa lugar especial em nós. A cultura utilitarista-coisificante reduz a existência humana única e exclusivamente ao físico-biológico-animal, subentendendo que, se não for através desta via, o ser humano não existe. Na prática esta lógica contradiz ao que existe de mais profundo em nós, nossa essência, nossas raízes. Para muitos, esta dor e sofrimento tornaram-se insuperáveis, diante da morre do ser amado.

Aprenderemos a olhar para a morte além dos limites dos nossos olhos quando aprendermos a olhar para a vida além do limite dos nossos olhos. A morte não é fim, mas sim, um momento, da existência humana, da vida, que vai além das referências cronológicas. O fato de nossos olhos não alcançarem, não põe fim, nem limita o horizonte. A vida é um presente; o tempo que passamos na terra é a oportunidade de fazê-la ‘render’, conferir-lhe sentido; a morte é o momento de voltar às fontes da existência. Quem não fala, não anda e não ouve é incapaz de amar? Não. Á noite o sol deixa de existir e brilhar? Não. Amemos além da morte!

* Ivanaldo Mendonça é padre e formado em psicologia