selo-ivanaldo2Por Ivanaldo Mendonça — Era 12 de outubro de 2009. Em meio à multidão que se preparava para a Caminhada, fui atraído por uma cadeira de rodas. Pensei ser alguém que viera fazer uma oração, retornando à sua casa, logo que a caminhada partisse. Tinha cerca de 75 anos, nas mãos uma flor, rezava e chorava.

Pessoas revezavam-se, ao seu redor, fazendo a guarda. Partimos!

Mais adiante percebi que a mulher, na cadeira de rodas, participava da procissão. Vim saber que, há tempos, convivia com um tumor, alojado no cérebro.

Desenganada, esperava a morte. Assim, pediu à família que a ajudasse a participar da caminhada em louvor a Nossa Senhora Aparecida. A resposta imediata foi não. Embora fosse uma família de fé, não havia condições físicas para que ela cumprisse o percurso de quatro quilômetros.

Um filho pergunta: “Como a senhora vai caminhar? A resposta: “Quando nasceu, você não sabia caminhar e, com amor e carinho, carreguei-o nos braços. Hoje, sei e quero caminhar, porém, não consigo. Peço que me ajude a realizar um de meus últimos desejos. Se achar justo não atender-me, entenderei.” Os filhos atenderam o pedido da mãe.

A família vivenciou intensamente aquele momento. A eles uniram-se genros, noras, netos, sobrinhos, afilhados, vizinhos e, aos poucos, outras duas mil pessoas. A mulher agradecia a todos. Sem sair da cadeira, parecia uma criança dando os primeiros passos.

36º artigoEla me disse: “Padre! Sou uma pessoa muito feliz! Sinto-me amada por Deus, por minha família de sangue e pela minha família de fé, que é a Igreja. Como me resta pouco tempo de vida, vim agradecer a Deus por tudo que me concedeu e pedir que minha família aprenda a caminhar na fé. As pernas e braços são importantes, mas, com o passar do tempo, enfraquecem e não respondem mais. Quem nos leva pra frente, de verdade, é a força da fé, que vem do coração. Mesmo sem sair do lugar, quando estou em oração, quando escuto a Palavra de Deus e recebo Jesus na Eucaristia, viajo o mundo inteiro; sinto-me preenchida pelo amor de Deus e capaz de amar as pessoas. Logo Deus me chamará e irei feliz para o céu”.

Eu e toda a multidão imaginávamos que a presença daquela mulher na caminhada, fosse para pedir de Deus uma graça especial que a libertasse da doença. Nos enganamos! Ela só queria agradecer e, as preces que fazia, eram pelos outros.

Encontrei-a, tempos depois, acompanhada da família, amigos e vizinhos. Faltava uma coisa! Não tinha cadeira de rodas! Fora participar da Santa Missa, mais uma vez, para agradecer. Desde aquele 12 de outubro não sentira mais dores, o tumor não mais cresceu e as forças das pernas voltaram.

A razão, a força das pernas e braços pode nos faltar. Sentados ou deitados, pela força da fé e do coração, permanecemos em pé.

* Ivanaldo Mendonça, Padre, Pós-graduado em Psicologia, [email protected]