ivanaldo-mendoncaPor Ivanaldo Mendonça – A polêmica enquete proposta por um programa de TV á platéia e convidados, perguntando, quem eles socorreriam primeiro, se a um policial levemente ferido ou a um traficante à beira da morte, está rendendo. Os votantes escolheram priorizar o atendimento do traficante ao do policial, a crítica escolheu deflagrar, através das redes sociais, a campanha ‘#EuEscolhoOPolicial’, contra a apresentadora e a emissora, acusando-as de defender bandidos.

Os argumentos contrários à postura do programa variam, de homenagens a policiais mortos em combate á suposições do tipo: a apresentadora e seus filhos são seqüestrados. Na fuga o sequestrador bate o carro, ficando gravemente ferido, enquanto ela e seus filhos ficam levemente feridos. Pergunta: quem os policiais devem atender primeiro? A apresentadora e seus filhos ou ao bandido gravemente ferido?

Seria cômico se não fosse trágico, a forma como o assunto é proposto e, mais ainda, como é abordado. Parece-nos que os votantes escolheram matar todos os policiais e salvar todos os bandidos e, a crítica voraz, escolheu salvar todos os policiais e matar todos os bandidos, atitudes próprias e comuns de um povo que, historicamente foi obrigado, e hoje, obriga-se, pelas próprias mãos, a transitar entre extremos: ou isso ou aquilo, ou este ou aquele, ou tudo ou nada, ou oito ou oitenta.

Muito embora a apresentadora justificara que o enfoque da questão fosse a ética, muito embora a crítica fosse generalista, ambas desconsideram inúmeros fatores, dentre eles, os vínculos afetivos. E se o policial for seu filho, esposo ou amigo? E se o bandido for seu filho, esposo ou amigo? Há ainda quem apimente a questão: e os tantos policiais que são bandidos e os tantos bandidos que são defensores da população? Dá pra imaginar onde esta polêmica vai chegar? Claro! Em lugar algum, até que um próximo programa e canal elaborem outra questão dessa natureza.

Por que temos que escolher entre os extremos? Porque temos que ser ‘isso’ ou ‘aquilo’? Por que os votantes não podem, fazendo uso de sua liberdade, escolher os bandidos? Por que os críticos não podem, fazendo uso de sua liberdade, escolher os policiais? Estaríamos sendo relativistas? E a liberdade de expressão? Afinal de contas, a tal emissora é considerada pela ‘quebra de tabus’ e do conservadorismo ao longo dos tempos. Às vésperas do Dia da Bandeira, 19 de novembro, assistimos o assassinato dos valores contidos em nosso símbolo nacional: ‘ordem e progresso’. Devemos escolher: Ordem ou progresso? Desordem ou progresso? Ordem ou estagnação?….

Eu prefiro a educação, cujo fim último é tornar o ser humano melhor e, com isso, mais capaz de discernir, escolher e transformar a realidade, para melhor. Só assim amadureceremos, não tendo mais que optar entre ‘minha vida’ ou ‘sua vida’, ‘minha morte’ ou ‘sua morte’, ‘negros ou brancos’, ‘religiosos ou não-religiosos’…, enquanto as reais causas, dos reais problemas, permanecem tal e qual, como se não existissem. Como se vida de bandido fosse mais vida que vida de policial ou vice-versa.

#EuEscolhoAEducação.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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