selo-ivanaldo_thumb.jpgPor Ivanaldo Mendonça — Há anos iniciara um curso em nível superior e não conseguira concluir. Os investimentos foram muitos e altos: dinheiro, tempo, energia mental, energia física, privações diversas… Como se não bastasse, era obrigado a viver sob constantes acusações e cobranças: pais, irmãos, amigos, colegas de trabalho…, além da mais penosa de todas, a cobrança da própria consciência, que não lhe permitia viver em paz. Enfim, decidira buscar ajuda.

A primeira pergunta: porque você interrompeu os estudos? Ao invés de resposta clara e objetiva, justificativas incoerentes evidenciavam não haver razões suficientes para sua atitude. Entre conviver com a eterna condenação e concluir os estudos, esta ultima parecia ser a melhor decisão.

No entanto, outra questão precisava ser feita: Porque você quer concluir o curso? A resposta parecera tão ou mais confusa que a primeira. Enfim, também não havia razão suficiente para que retomasse os estudos.

Concluir o curso tornara-se uma necessidade daquele jovem muito mais em função das cobranças do que de sua de própria vontade e necessidade. O desespero em resolver a questão era muito mais sintoma (aquilo que aparece), do que causa (real origem do problema). Estávamos diante da dor de cabeça que parecia ser indício de uma passageira indigestão, porém, sinalizava a existência de tumor fatal, um grave problema.

A angustia que parecia exclusivamente relativa à conclusão do curso, escondia uma profunda indecisão, relativa ao sentido e significado da vida. Escolha ou alternativa consiste num processo mental de pensamentos envolvendo o julgamento dos méritos de múltiplas opiniões e a seleção de uma delas para ação, ensina o dicionário, exemplificando assim: “decidir-se levantar pela manhã ou voltar a dormir”.

Muito embora levantar ou voltar a dormir seja uma escolha, a princípio regida pelo livre arbítrio, ela não possui sentido e significado por si só. Esta decisão está intimamente ligada àquilo que move o ser humano a levantar-se ou não; independentemente de estar ou não com sono, cansado e disposto, levantar ou continuar dormindo, é uma decisão que esta ligada a uma escolha maior, a uma opção de vida.

Frequentemente deparamo-nos com pessoas indecisas, num grau extremo de sofrimento oriundo de conflitos relacionados a escolhas e decisões: o que fazer, o que não fazer, o que começar a fazer, o que deixar de fazer…

Parece-nos que reais e necessárias soluções não passam apenas por escolhas e decisões restritas ao nível do que salta aos olhos, as escolhas imediatas A busca por reais e necessárias soluções remete-nos, necessariamente à opção de vida, ou seja, ao sentido e significado maior, que justifique as pequenas escolhas e decisões, movendo-nos a abraçar, amorosamente, suas consequências, sejam quais forem.

Concluir o curso não era, de fato, o real e grande problema daquele jovem. Teria ele antes de tudo, definir e assumir sua opção de vida. Levantar-se ou ficar deitado acaba sendo irrelevante quando não se tem um sentido.

Opção é mais que simples escolha, embora as escolhas evidenciem nossa opção de vida.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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