selo-ivanaldoPor Ivanaldo Mendonça — Por ter sido concebido na velhice, José, o sonhador, tornou-se o filho predileto, despertando raiva e ciúme dos irmãos. Contara um de seus sonhos aos irmãos: “Estávamos atando feixes no campo; meu feixe se levantou e ficou de pé e os feixes de vocês o rodearam e se prostraram diante deles”. Os irmãos, interpretando que ele queria ser superior, enraiveceram ainda mais, tramando sua morte e, por fim, vendendo-o a mercadores.

José foi levado para o Egito. Pela capacidade de atribuir significados aos sonhos, atraiu a atenção das pessoas, inclusive do Faraó. Sábio e inteligente foi feito governador do Egito. Capaz de ler e interpretar o cenário político, bom estrategista e administrador, armazenou comida que, no tempo da seca, vendeu, aumentando assim o poder do Egito sobre outros povos.  Um dia, dentre os compradores, ele reconhece seus irmãos, os mesmos que o venderam.

A saga de José, registrada no primeiro livro do Gênesis, o primeiro da Bíblia, muito no ensina. Em nossos tempos tudo vale mais que a vida humana. Vendemo-nos uns aos outros. ‘A correria do dia-a-dia, as exigências da empresa, a necessidade de atualização’ justificam os pais. ‘Eles estão velhos, estão ultrapassados, não conversam comigo, nem sabem que eu existo’, rebatem os filhos. ‘Ele é muito diferente de mim, ele pode tudo, eu não posso nada’, argumentam os irmãos. ‘Em nome da soberania nacional’ bradam os políticos. ‘Em nome de Deus’ gritam os pseudo-religiosos.

Somos movidos pelos sonhos! Sonhos movidos pelo mal nos levam a vender os irmãos, os pais, os filhos, os amigos, quando não, a simplesmente abandoná-los, gratuitamente. Sonhos movidos pelo bem nos levam a superar desafios e barreiras, quaisquer que sejam. A saga de José coloca-nos diante do tribunal da vida: vendedores ou vendidos? Em geral, vendidos alimentam em seus corações um falso senso de justiça chamado vingança. Difícil lidar com a realidade de ser vendido por aqueles que mais deveriam nos amar. Os que vivem esta condição merecem especial atenção.

José era um sonhador! Movidos por sonhos nobres, grandes e justos, à custa de empenho, trabalho, fidelidade e comprometimento, os tornamos realidade. Nunca esteve entre os sonhos de José submeter ou escravizar seus irmãos.

Quem assim interpretou, assim fez acontecer; os irmãos escolheram curvar-se diante dele. José, superando a condição de vítima, amou acima de tudo. Não se vingou. Acolheu, ajudou e promoveu os irmãos.  Sonhos movidos pelo ódio, raiva ou ira, tornam-se realidade, negativamente. Sonhos movidos pelo amor, simplicidade, trabalho e sabedoria, tornam-se realidade, positivamente. Somos movidos pelos sonhos!

Ivanaldo Mendonça, Padre, Pós-graduado em Psicologia, ivanpsicol@hotmail.com