selo-ivanaldoPor Ivanaldo Mendonça — A celebração do ano santo extraordinário que a Igreja celebra, intitulado Ano da Misericórdia, é carregada de sentido e significado, seja pela grandeza e importância do tema, seja por sua urgência e necessidade, tanto da Igreja para dentro, pois embora tenha ela sua origem e fundamento na vontade do próprio Deus, é marcada pela realidade humana e, consequentemente, por suas mazelas, quanto da Igreja para fora, pois, cada vez mais, os desafios que assolam a humanidade, exigem respostas diferentes das que se tem dado até agora.

Misericórdia! Insistentemente temos ouvido e falado, porém, muitos desconhecem o real sentido e significado deste conceito; mais que palavra, ele condensa pensamentos, sentimentos e comportamentos que, como farol, orienta a vivência da fé cristã. Embora a assimilação e prática de valores espirituais não dependam, necessariamente, da intelectualidade, é importante alimentar a busca pela compreensão daquilo que acreditamos.

Misericórdia é uma palavra latina composta por outras duas ‘miséria’ e ‘coração’. Seus equivalentes na língua grega (‘eleos’) e hebraica (‘hesed’) possuem o mesmo significado. A ‘miséria’ exprime certa insuficiência extrema que suplica por piedade e compaixão; o miserável é um indigente que, com a vida e subsistência esta ameaçada, perambula sem rumo.  O ‘coração’ quando sente a miséria presente num homem, não a julga, mas a queima e destrói, eliminando a condição subumana do outro, a condições de morte, humilhação e distância, favorecendo o resgate de sua dignidade.

A misericórdia consiste na atitude de mover-se em direção ao outro, abraçar sua miséria com o coração, liquidando-a com amor e compaixão. A vivência da misericórdia dispensa a lógica e seus pressupostos tantas vezes cruéis; dispensa-se o absolutismo da razão e suas conjecturas, margeados pela parcialidade; dispensa a justiça que trafega sobre os trilhos do ‘dar a cada um o que lhe é de direito’, pois tantos não os têm reconhecidos; dispensa a meritocracia, pois, tantas vezes, nada merecemos assim como nada podemos retribuir.

O dom da misericórdia só é alcançado e vivido à luz da fé, através da experiência de um coração ‘miserável’ que se deixa continuamente abraçar pelo coração misericordioso de Deus e, assim, preenchido, abre-se, misericordiosamente, para abraçar o outro. A misericórdia nasce, vive alimenta-se e manifesta-se no perdão e na ternura. Se a nós a vivência deste dom é um constante desafio, considerando nossas muitas limitações e fraquezas, Deus não conhece limites; Nele a misericórdia não é um atributo, algo acrescido ou conquistado, mas uma realidade inerente ao Seu ser.

Deus é misericórdia. Sejamos misericordiosos!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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