Por Ivanaldo Mendonça — Inegável reconhecer o ser humano como especial. A história revela, registra, testemunha e propaga os resultados dos incansáveis esforços do homem para conhecer a tudo e a todos. Porém, nenhum investimento tem requerido mais atenção e recursos do que a ânsia do homem por desvendar os mistérios que habitam o mais profundo do seu ser.

Naquilo que diferencia o ser humano dos outros seres, salta a nossos olhos, imediatamente, a capacidade de pensar. O racionalismo, corrente filosófica que atingiu seu apogeu no século XVII, entende que, pela força da razão, servindo-se de operações mentais, discursivas e lógicas, o homem alcança a verdade sobre todas as coisas. O celebre “Penso logo existo”, de René Descartes, representa este pensamento.

Para o positivismo, corrente filosófica dos séculos XIX e XX, a observação dos fenômenos e a experiência sensível, através de dados concretos, tomando como base o mundo físico e material, é o caminho para atingir a verdade sobre todas as coisas e, o conhecimento científico, a única fonte de conhecimento verdadeiro. “Os céus proclamam a glória de Kepler e Newton”, frase de Augusto Comte, pai do positivismo, exalta a dignidade dos cientistas.

Racionalismo e positivismo são dois dos muitos movimentos que ofereceram contributos fundamentais, mas que pecaram pelo radicalismo. O radicalismo, seja qual for sua natureza, dificulta o processo permanente de busca do ser humano por si mesmo; o parcial, consequentemente, é excludente. Uma possível compreensão do ser humano passa, necessariamente, pela capacidade de considerá-lo como ser global, em sua totalidade, muito embora, cientificamente, seja necessário fazer o estudo de partes. O homem, ser único e global, é dotado de características que nos permitem considerá-lo em diversas dimensões, áreas e domínios, interdependentes.

A dimensão cognitiva responde pelo conhecimento e desenvolvimento das estruturas mentais. A dimensão afetiva responde pelo desenvolvimento dos afetos, emoções e sentimentos. A dimensão biológica determina o equilíbrio do sistema, garantindo saúde e qualidade de vida, o nível físico. A dimensão relacional orienta o desenvolvimento das relações do ser humano consigo e os outros. Embora ainda não figure em muitos registros, considera-se, também, a dimensão espiritual, responsável por remeter o ser humano à sua origem primária e fim último.

Considerar e compreender o homem em sua totalidade faz-nos perceber e reconhecer que, o que o torna especial é o fato de ser humano e, o que o torna verdadeiramente feliz é viver intensamente sua humanidade, na totalidade do ser.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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