Por Ivanaldo Mendonça — “Ninguém me ouve!” Esta é uma queixa comum em nossos dias. Na família, círculos de amizade, trabalho, terapia e igrejas, a unanimidade é “ninguém me ouve”. Xingos, elogios, desabafos e declarações que reivindicam o direito de ser ouvido, entopem as redes sociais, como que obrigando quem está do outro lado a ouvir. Os instrumentos de comunicação, que alguns têm como melhores amigos, são programados apenas para falar.

Sofremos a carência de um elemento essencial, uma necessidade básica do ser humano: saber ouvir. Não saber e não conseguir ouvir é mais uma dentre as tantas consequências do isolamento a que somos estimulados: cada um no seu mundo, à sua maneira, a seu tempo, com sua opinião e suas vontades. Embora seja a rede o símbolo do mundo globalizado e conectado, vivemos como retalhos, próximos ou pertos, porém, isolados, cada um no seu quadrado.

Saber ouvir exige muito mais que um aparelho auditivo saudável. Esta nobre arte envolve a totalidade do nosso ser, tudo o que somos e temos. Para obtermos êxito neste exercício, alguns movimentos são fundamentais:

Ouvir a si próprio. Viver a dinâmica do diálogo interno com nossa mente, nosso coração, nossos sonhos e projetos, nossas alegrias e decepções. A incapacidade de ouvir o outro é reflexo de não saber ouvir a si próprio;

Acolher o outro. Estar para o outro, permitindo que ele se aproxime, tenha espaço para ser quem ele é, na condição em que se encontra (alegria ou tristeza, vibração ou decepção). Acolhê-lo por quem ele é, não por aquilo que ele traz;

Despojar-se de si. Não impor ao outro o que pensamos e sentimos, nossos pré-conceitos e opiniões sobre o que ele diz ou faz. Esta atitude evidencia a capacidade de o ser humano doar-se e reconstituir-se sem perder-se, sinônimo de maturidade e equilíbrio;

Fazer silêncio. Estar totalmente para o outro, permitindo que ele fale, esvazie-se. Fazer silêncio exige que nos livremos do vício de dar respostas e interromper o outro. Tantas vezes o silêncio é a melhor resposta;

Ouvir a si próprio, acolher o outro, desporjar-se de si e fazer silêncio, está intimamente relacionado à humildade, qualidade daquele que não tenta se projetar, nem mostrar-se superior ao outro. Humildade é a virtude que dá o sentimento exato da nossa modéstia, cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade.

Precisamos ‘ser ouvidos’ porque temos necessidade de falar!

Precisamos ‘ser ouvidos’ porque outros têm necessidade falar!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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