Por Ivanaldo Mendonça — As comemorações em louvor a Nossa Senhora Aparecida, tendo como ápice o dia 12 de Outubro, recorda, valoriza, incentiva e fortalece no coração e vida do povo brasileiro, o poder da fé. Maria, escolhida para gerar em seu ventre Jesus Cristo, salvador da humanidade, dispondo-se ao projeto de Deus, é modelo para todos os que se empenham no seguimento de Jesus Cristo. Do alto da cruz o Senhor emprestou sua mãe para ser mãe de toda a humanidade, representada no discípulo João: “Mulher, eis ai o Teu filho. Filho” (…) “Filho, eis ai a Tua mãe” (Jo 19,26-27).

Próximos á tradicional caminhada que reúne milhares de pessoas no dia da Padroeira do Brasil, o movimento provocado pelas atividades preparatórias moveu-a a tomar a firme decisão: falar com o Padre. Se foi difícil decidir, mais difícil ainda saber o que dizer. Seria uma conversa? Uma confissão? Seria acolhida e compreendida? Seria expulsa e excomungada? Em meio a tantas dúvidas e medos, lá foi ela!

Sentia-se rejeitada desde o ventre materno, suspeita que fora confirmada pela própria mãe ainda na infância. Adolescente, sem saber que estava grávida, ou, ao menos, sem entender, de fato, o que significava estar grávida, foi submetida a um aborto tramado por adultos.  Compreendendo, mais tarde, o que havia ocorrido, nunca mais conseguiu dormir em paz; o peso da culpa era maior que ela. Casada, apanhava três vezes ao dia; para defender os filhos, decidiu separar-se; foi colocada na rua pela própria família, recebendo da sociedade o título ‘mulher suja’.

Por não conseguir trabalho, tornou-se faxineira de um prostíbulo e, como trabalhava em horários incomuns, ficou conhecida como ‘mulher da vida’. Afastou-se de tudo e todos. Sabia que não era perfeita, no entanto, tornara-se amarga e fechada por carregar um fardo desproporcional: o preconceito. Já haviam se passado mais de 50 anos e ainda era assim. Inclusive, ninguém se oferecia para rezar em sua casa.

Criança, morando na zona rural, amava ir a Igreja para, junto a outras, cantar nas missas e festejos de Nossa Senhora Aparecida. Queria, agora, no dia da Padroeira, reviver uma das poucas lembranças bonitas de sua vida, participando da caminhada e, principalmente, receber a Eucaristia. Por isso estava ali.

Acolhendo, atentamente, o que aquela mulher dissera, o padre concluiu: “Você tem uma marca profunda que foi encoberta pelo preconceito e pelo medo: é filha de Deus! Ele te ama e te acolhe! A Igreja te ama e te acolhe! As pessoas nunca entenderão tudo! Segue seu caminho! A senhora esta a pé? Sim, ela respondeu! Pode me fazer um favor? Claro padre! Voltando para sua casa, leve, nos braços esta imagem de Nossa Senhora Aparecida! Certamente, muitos que a verem, agora te darão outro nome: a mulher que carrega a santa! Emocionada e agradecida ela se foi, certamente, sem ter noção de que uma santa carregava a outra. 

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

ivanpsicol@hotmail.com