Marco Antonio dos Santos / Diário da Região — O Conselho Federal de Medicina (CFM) baixou norma proibindo o agendamento de cesáreas eletivas antes que seja completada a 39ª semana de gestação. A nova regra vem para reduzir o grande número de cesáreas realizadas, igualando 50% com o número de partos normais, segundo a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). Em Rio Preto, apenas 17% das crianças nascem por parto normal. A decisão do CFM é embasada em estudo do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, que estabeleceu novo período para maturação dos bebês. Fotos Mara Souza / Diário da Região
Antes do estudo, era permitido fazer cesárea a partir da 37ª semana gestacional. Porém as crianças corriam risco de nascer com problemas respiratórios e deficiência de audição e visão, porque sua formação uterina não estava completada. De acordo com o ginecologista Rodrigo Lima, diretor da SBMFC, entre 37 e 39 semanas, o bebê atravessa uma fase crítica de desenvolvimento do cérebro, pulmões e fígado. Retirá-lo do útero interrompe o processo.
“O que acontecia é que as pacientes pediam para agendar a cirurgia conforme suas prioridades que nem sempre eram médicas. Às vezes, ela queria esperar vagar um quarto específico no hospital ou que o filho viesse ao mundo naquela determinada data. Houve caso em que a mãe agendou a cesárea no dia em que a empresa de bufê especial para grávidas poderia atendê-la”, diz o médico.
Mas, Lima diz que o agendamento muito cedo também foi incentivado por profissionais de saúde. “Há também médicos que querem adiantar o parto da criança para não ter que trabalhar fora da hora, por exemplo, em feriado. Aguardar o momento adequado para fazer o parto pode levar muito tempo, mas nem todo ginecologista tem paciência. A nova norma veio para disciplinar o comportamento dos médicos”, afirma o diretor.
A favor da medida do CFM, o ginecologista Eurico Medeiros Filho diz que a norma não pode ser usada como pressão para acabar com a onda de cesáreas. “Não se faz uma mudança cultural por decreto. Antes da década de 70, muitas mulheres morriam em partos normais. É preciso convencer as grávidas que hoje em dia não há mais esse alto risco”. Outra razão para as mães adiantarem as cesáreas é mística, para fazer com que a criança nasça no período de determinado signo do zodíaco.
‘Escolhi esperar’
A dona de casa Nathalia Concon, de 23 anos, optou por esperar a 39ª semana gestacional para o nascimento de Leonardo, em 24 de maio deste ano. “É importante a gente aguardar todo este tempo, porque é na minha barriga que ele desenvolveu. Não há razão para apressar um momento tão lindo”, diz a jovem mãe.
Para a cabeleireira Angélica Martins, 27 anos, que está na 38ª semana de gestação do segundo filho, as grávidas precisam começar a respeitar, já na gravidez, a vontade do filho. “A criança dá sinais do período certo para vir ao mundo. Ela avisa pelas contrações. Quem colhe fora do tempo, não sabe o que o tempo dá”, diz a grávida, citando o cantor Luiz Gonzaga.
O parto tem o tempo certo de acontecer
Sou a favor da medida do Conselho Federal de Medicina para evitar o agendamento dos partos, porque as grávidas de hoje precisam aprender que tudo tem o tempo certo para acontecer.
Nos dias de hoje, encontramos jovens, que nem sempre tiveram uma gravidez planejada, e como não estão preparadas para este momento, querem que o nascimento da criança aconteça bem antes de completar os nove meses de gestação.
Chamo estas mulheres de ‘mãe miojo’, que desejam que a gestação seja como fazer macarrão instantâneo. Toda criança tem a sua hora certa para nascer. Ela dá os sinais bem nítidos de quando isso pode acontecer, porque será o momento em que ela está desenvolvida e pronta para vir ao mundo. – Talita Miranda – Doula
O nascimento do bebê deve ser preparado
Sou contra a nova norma do Conselho Federal de Medicina, porque a decisão precisava ser debatida antes com as mães, que têm o direito de optar entre parto normal e a cesáreas. A decisão de solicitar ao médico o nascimento do filho na 37ª semana da gestação acontece depois do longo processo de pré-natal, quando são feitos exames clínicos e ultrassom que comprovam como está a criança.
A possibilidade de escolher a semana de nascimento da criança, com aval dos médicos, dava a chance de a mãe planejar um momento que é muito bonito para ela e toda família. Além do desenvolvimento do bebê é importante que esteja tudo preparado na casa que deve ser adaptada para receber o novo membro da família. – Roberta Silva – Grávida, 22 anos
