Considerado como ‘discípulo’ do saudoso professor e folclorista José Sant’anna, o criador do Festival do Folclore de Olímpia, o advogado, jornalista e, também, folclorista, editor do Anuário dos Festivais, André Nakamura, enviou ao Diário a sua manifestação sobre a discussão em redes sociais da decisão da Secretaria de Cultura de Olímpia em rever a escolha feita no ano passsado de um grupo patafolclorico do Ceará ser homenageado, representado o seu Estado, na edição vindoura do Festival. A questão é puramente financeira de ambos os lados, mas a rede social é celeiro fácil de opiniões nem sempre bem fundamontadas, daí o artigo enviado hoje (24) ao Diário.

Por André Nakamura – Leonardo, parabéns pela excelente reportagem. Até então estavam sendo feitas alegações firmemente fundamentadas, “em nuvens”. Você elucidou os fatos.

Considero oportuno reafirmar que não há nenhum “compromisso” do Município da Estância Turística de Olímpia com qualquer grupo específico. Trata-se de homenagens a Estados  brasileiros, a “unidades da federação”, e não a grupos, sejam folclóricos, sejam parafolclóricos.

Essas homenagens a Estados se iniciaram no 42º Festival do Folclore, ocasião em que lamentavelmente fui presidente da Comissão Executiva. Assumi quando o cartaz já estava pronto. Quando indagado acerca do porquê da homenagem ao “folclore paraense”, afirmava que desconhecia o critério, e até mesmo se havia algum. Nesse mesmo cartaz, não há um grupo específico do Pará.

Nas anteriores edições do Festival, grupos folclóricos, na maioria, eram motivo do cartaz. O Grupo Parafolclórico “Terra da Luz”, de Fortaleza/CE, inclusive, foi motivo do cartaz no 37º FEFOL.

Por que o Pará? Não sei.

O Estado da Bahia, por exemplo, poderia ter sido o primeiro (o Brasil começou lá). Ou, melhor ainda, o Estado de São Paulo, no qual se criou, em Olímpia, o Festival do Folclore   (lembrando que em 2006, o Recinto de Exposições e Praça de Atividades Folclóricas “Prof. José Sant’anna” completava 20 anos).

As “homenagens” continuaram, na seguinte ordem: Minas Gerais, em 2007 (não me pergunte o motivo); Paraíba, em 2008 (?). Em 2008, haveria eleições para Prefeito. A Comissão Executiva na ocasião não se pronunciou, ao final do evento, sobre homenagear algum Estado. Em 2009, nenhuma unidade da federação foi enaltecida. Daí, o Município de Olímpia foi então homenageado.

No 45º FEFOL, retomaram-se as “homenagens”: Paraná (2010); Rio Grande do Norte (2011); Rio Grande do Sul (2012); Mato Grosso (2013). No cinquentenário do Festival (2014), finalmente, São Paulo; Em 2015, Pernambuco, e, em 2016, Espírito Santo.

Note-se que, quanto ao festival de 2012, havia integrantes de diferentes grupos gaúchos no cartaz, e que, no do cinquentenário, não havia imagem em destaque de grupo nenhum, folclórico ou parafolclórico.

No cartaz do 51º Fefol, também não há foto de nenhum grupo parafolclórico conhecido, apenas ilustrações de figuras de maracatu.

Após sua reportagem exclusiva, ouvi estranhos rumores, e li declarações em redes sociais da internet (fundamentadas “no ar”, constatamos depois) de que “isso não pode”, porque tudo está “acertado” com entidades estatais cearenses (conheço várias pessoas ligadas a folclore, de diversos grupos parafolclóricos, desse Estado). Procurei saber sobre a existência de “contrato”, “convênio” ou qualquer outro “compromisso” de entidades ou órgãos públicos de lá com Olímpia. Obtive a mesma informação. Houve até quem gracejasse dizendo que, mesmo se o próprio Lampião e a Maria Bonita ainda estivessem vivos, não tinha nada certo” sobre participação do governo do Estado (e também da prefeitura de Umari), em Festival de folclore, pois inúmeras outras eram as prioridades dos governantes no momento.

André Nakamura, advogado, folclorista, editor do Anuário de Folclore, no qual publicou inúmeros artigos, desde a época do Prof. Sant’anna. E jornalista. 

2 COMENTÁRIOS

  1. Grande André! Possui vasto conhecimento das Artes Populares, na acepção do termo e engrandece os nossos Festivais. É verdade que aparecem “falsos profetas”, incultos, muitas vezes, que, desconhecendo nossa história não se fazem de rogados para aparecer. Quero crer que a assertiva da atual administração se consolide na profissionalização desse importante evento e fique ele menos dependente dos interesses políticos e pessoas culturalmente desavisadas. Não dirijo minha missiva a qualquer outra manifestação sobre o assunto, até porque desconheço, mas presto minha solidariedade ao jovem idealista André Nakamura.

  2. Desde a morte do Prof. Sant’anna as comissões mudam com as novas gestões, sendo assim, a comissão anterior sabia que poderia ser trocada e mesmo assim assumiu compromissos.
    Não creio que tal medida influencia no aspecto cultural do festival.