Por Ivanaldo Mendonça — À medida em que o ser humano toma consciência de si, diferencia-se dos seus iguais e estabelece a necessária relação de reciprocidade, emergem as realidades da liberdade e responsabilidade. Cada pensamento, sentimento e comportamento, independentemente de valoração, colocam-nos frente a estas realidades, numa relação de causa e efeito. A vide exige respostas e, nesse sentido, somos desafiados a nascer e renascer a cada instante.

Sobre os fenômenos que manifestam os efeitos da natureza material, vital e animal, por si só, não temos controle. No entanto, dotados da natureza espiritual, caracterizada pela capacidade de pensar e pelo comportamento responsável, diferentemente dos outros seres, o humano possui condições de exercer certo controle sobre o que é, e sobre o que quer ser, considerando, é claro, os impactos ambientais, dos climáticos aos econômicos. O desafio da vida e existência humana revela-se, constantemente ‘Dom’, ‘Dor’ e ‘Esperança’.

Perceber a vida e existência humana como ‘Dom’ consiste na sensibilidade para captar aquilo de belo e bonito que elas colocam a nossa disposição. Esta capacidade, exercitada constantemente, converte-se num hábito, dispondo aos seus detentores condições de superação diante dos desafios. Perceber-se como ‘Dom’, presente, graça e benção, permite que consideremos os outros, também, como ‘Dom’, graça e benção.

pinturaPerceber a vida e existência como ‘Dor’ consiste na sensibilidade para captar aquilo que nos limita e condiciona. Somos capazes de muito, mas não capazes de tudo. Os efeitos do tempo, condicionamentos biológicos, limites de compreensão, limites culturais…, nos colocam diante da realidade da ‘Dor’ física, mental, emocional e/ou espiritual que, antes de ser um mal, sinaliza-nos: você consegue ir até aqui. É necessário saber até onde podemos ir.

Perceber a vida e a existência humana como ‘Esperança’ consiste na sensibilidade para captar aquilo que nos move, para além dos aspectos e elementos limitantes, impulsionando-nos, inclusive, a superar os maiores desafios, possibilitando encontrarmo-nos conosco mesmo, naquilo que somos e temos de singular. A esperança é o movimento espiritual exclusivo do ser humano. Nela, ele encontra a capacidade e força para recomeçar, reconhecendo dons, administrando e superando dores.

Assumir a existência humana de forma consciente, livre e responsável consiste num grande desafio. No entanto, um desafio totalmente possível e realizável. Dispostos, tornamo-nos capazes de acolher cada dia como ‘Dom’, reconhecendo sua beleza; á medida que entramos em contato com a ‘Dor’ reconhecemos nossos limites. Deixando-nos mover pela esperança, descobrimos, redescobrimos e conferimos, cada vez mais, sentido á existência. Nisso consiste a desafiante e bela arte de ser humano. Ha cada dia: um dom, uma dor, uma esperança!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia