O bispo diocesano de Barretos, Dom Milton Kenan Júnior, condenou a violência e a corrupção, e disse que ambas estão correlatas. A circular de março, endereçada aos religiosos e fiéis católicos de nossa região, inclusive Olímpia, que também pertence à sua jurisdição, assinala que a corrupção atinge todos os níveis, inclusive da política brasileira, e a violência é filha da corrupção e a base de tudo é o dinheiro conquistado sob exploração e sangue dos mais pobres.

A íntegra da circular é a seguinte:

“Prezados irmãos e irmãs,

“Ao mesmo tempo em que nos damos conta da violência que não poupa a
ninguém, embora as vítimas mais numerosas estejam entre os mais pobres e jovens do
nosso país, convivemos também com a realidade da corrupção que invade governos,
instituições, grupos financeiros, empresas, igrejas, famílias e indivíduos.

“Essas duas realidades, aparentemente tão alheias, sabemos, na verdade, que
estão intimamente ligadas entre si, pertencem ao mundo que idolatra o dinheiro tornando o absoluto capaz de submeter a si o interesse das nações, a convivência dos povos e
as relações entre as pessoas.

“Não será demais dizer que a corrupção gera a violência, pois como afirma o Papa
Francisco, ela mina as bases da vida pessoal e social, com a sua prepotência e avidez,
destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres, é uma obra das trevas,
alimentada pela suspeita e a intriga” (Misericordia Vultus, n.19).

“O Texto-base da Campanha da Fraternidade 2018 diz que “a corrupção é a
expressão de que o dinheiro está em primeiro lugar e a dignidade das pessoas e o bem
público em segundo. A corrupção trai a justiça e a ética social, compromete o
funcionamento do Estado, confunde o público e o privado. Ela leva ao descrédito das
instituições públicas, a não participação do povo na política. A corrupção, o desvio dos
recursos públicos, enfraquece as políticas sociais, marginaliza os pobres” (n.62).

“Não é difícil perceber que a corrupção, hoje, tornou-se um “poder silencioso” que
avança às escuras, decide as políticas, sempre distante das vistas das pessoas, favorece
os interesses de alguns às custas de serviços públicos de qualidade para a população,
vive do poder da barganha e a partir da lógica da vantagem.

“Quando São Tiago na sua carta escreve: “O fruto da justiça é semeado na paz,
para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18) compreendemos que a falta da paz
corresponde à falta da justiça. Onde a lógica do lucro predomina, a paz é sacrificada e a
violência prolifera.

“Ainda, na Bula Misericordia Vultus, o Papa Francisco nos exorta dizendo: “Não
caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele,
tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão. Não
levamos o dinheiro conosco para o além. O dinheiro não nos dá a verdadeira felicidade. A
violência usada para acumular dinheiro que transuda sangue não nos torna poderosos
nem imortais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual
ninguém pode escapar” (ibid.)

“A Mensagem do papa para a Celebração do 50º Dia Mundial da Paz, ocorrido no
dia 1º de janeiro de 2017, teve como tema: “A não-violência: estilo de uma política para a
paz”. Eis algumas palavras do Santo Padre: «Quando a Madre Teresa recebeu o Prêmio
Nobel da Paz em 1979, declarou claramente qual era a sua ideia de não-violência ativa:
«Na nossa família, não temos necessidade de bombas e de armas, não precisamos de
destruir para edificar a paz, mas apenas de estar juntos, de nos amarmos uns aos outros
(…). E poderemos superar todo o mal que há no mundo».

“Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8) é o lema da Campanha da Fraternidade 2018.
Ele nos lembra que a paz será duradoura entre nós quando compreendemos que somos
membros de uma mesma família, onde a felicidade de todos depende de cada um. Por
que somos irmãos não há razão para roubar. Qual é a felicidade daqueles que se
enriquecem às custas dos mais fracos e necessitados? Que vantagem há em precisar
mentir e enganar para poder sobreviver?

“A paz que anunciais com os lábios, conservai-a ainda mais abundante nos
vossos corações” (São Francisco). Comprometidos com a paz, trabalhemos para
erradicar a corrupção das nossas atitudes, pois somente na justiça e na concórdia
conseguimos construir um mundo de paz para todos”.

Dom Milton Kenan Júnior
Bispo Diocesano de Barretos