DO DIÁRIO — Enquanto cresce o debate sobre a legalização dos jogos de azar no Brasil, e o trabalho da CEI das ‘Bets’ expira neste sábado (14), dois importantes líderes católicos da região — Dom Vilar, arcebispo nomeado de São José do Rio Preto, e Dom Milton Kenan Júnior, bispo diocesano de Barretos — intensificaram nesta semana suas manifestações públicas contra a proposta, que tramita em Brasília e prevê a liberação de cassinos, bingos, jogo do bicho e apostas esportivas.

Ambos têm relação direta com a Estância Turística de Olímpia, que até tem ‘lei’ autorizando os cassinos nos hotéis e resorts assim que o projeto de lei for sancionado pelo presidente Lula: Dom Vilar passará a liderar a nova arquidiocese à qual a cidade está vinculada, enquanto Dom Milton já responde pelas paróquias locais sob a Diocese de Barretos. Suas falas, portanto, ganham peso regional e relevância no contexto local.

O primeiro arcebispo de Rio Preto, que abrange a Diocese de Barretos (e as paróquias locais), Dom Vilar destacou que “os jogos de azar, especialmente em uma sociedade desigual e em grande escala, podem contribuir para o aumento da criminalidade, com fraudes, manipulação de resultados, corrupção e lavagem de dinheiro”. Ele apelou para que parlamentares e autoridades públicas se oponham à legalização, em defesa das famílias e dos valores fundamentais da sociedade.

Dom Milton foi além. Em artigo divulgado nesta sexta-feira (13), o bispo criticou com veemência o impacto das apostas esportivas online, destacando o sofrimento de jovens atraídos pela falsa promessa de dinheiro fácil. Ele alertou para o abandono escolar, o endividamento crescente, a ansiedade e até pensamentos suicidas entre os jogadores compulsivos.

“Se Santo Antônio estivesse entre nós, certamente sairia em defesa das vítimas dessas apostas modernas, que arrancam das mãos do povo o pouco que ainda têm”, escreveu o bispo, associando sua crítica à semana dedicada ao santo protetor dos pobres.

“Por trás de gráficos, aplicativos e promessas, há famílias destruídas, lares desfeitos e muita dor. E o mais triste é ver que muitos dos que caem nessa armadilha são pessoas humildes: jovens sem apoio, pais e mães de família, idosos com pouca instrução, todos enganados pela falsa esperança de que aquele dinheiro apostado voltará multiplicado”, escreve Dom Milton.

E, sentencia: “Como bispo e pastor, não posso me calar. Ainda que as apostas estejam legalizadas, não deixam de ser uma porta escancarada para o sofrimento humano. Alimentam a ganância, corroem os laços familiares e colocam em risco a dignidade de filhos e filhas de Deus”.

CNBB: “A falácia dos impostos”

Em suas reflexões, a CNBB tem considerado dois pontos importantes para levar o posicionamento da Igreja. “O primeiro frente à falácia de que a liberação aumentará a arrecadação de impostos, favorecerá a criação de postos de trabalho e contribuirá para tirar o Brasil da atual crise econômica, argumento levantado também há 40 anos. Esses argumentos seguem tese de que os fins justificam os meios e não consideram a possibilidade de associação dos jogos de azar com a lavagem de dinheiro e o crime organizado”, segundo documento no site oficial.

O outro ponto diz respeito “aos prejuízos morais, sociais e, particularmente, familiares relacionados aos jogos, cuja prática compulsiva é considerada uma patologia no Código Internacional de Doenças, da Organização Mundial de Saúde”.

Para a CNBB, “o sistema altamente lucrativo dos jogos de azar tem sua face mais perversa na pessoa que sofre dessa compulsão”.

PESQUISA: Maioria é a favor

Relator do projeto que autoriza o funcionamento de cassinos e bingos no Brasil (PL 2.234/2022), o senador Irajá (PSD-TO) afirmou em Plenário, no dia 29 de maio pp., que a sociedade brasileira está madura para aceitar a operação das casas de jogos sob regras responsáveis. Ele defendeu uma legislação sobre o tema que esteja “alinhada aos desafios de hoje”.

O senador citou pesquisa do DataSenado, feita a seu pedido, que aponta que 6 em cada 10 brasileiros são favoráveis à legalização dos cassinos. Em sua avaliação, a sociedade vê o projeto — que também autoriza o jogo do bicho e a aposta em corridas de cavalos, entre outros jogos de azar — como oportunidade de desenvolvimento e não uma ameaça.

“A atual proibição não funciona, pois 70% dos brasileiros e brasileiras acreditam que ela não reduz a oferta de jogos ilegais no país. Apenas 25% ainda acham que a lei, hoje, consegue conter a prática criminosa do jogo clandestino, do jogo ilegal, dominado pelo crime organizado”, disse.

Senador Irajá entende que o Brasil precisa de um novo marco “moderno e responsável” baseado em experiências internacionais bem-sucedidas, que seja capaz de impulsionar o turismo, atrair investimentos e gerar empregos. Porém, ressalvou que a norma deverá enfrentar a lavagem de dinheiro e o financiamento do crime organizado, além de evitar o endividamento dos jogadores.

Parlamentares contrários ao texto afirmam que o projeto pode incentivar a ludopatia (vício em jogos) e crimes, como lavagem de dinheiro, tráfico e prostituição.