Por Ivanaldo Mendonça — O texto que tratava sobre a vivência da fé, sobre o valor, importância e necessidade de seguir a Jesus Cristo com fidelidade, sobre suportar e superar os desafios que a vida apresenta com maturidade e equilíbrio, sobre arcar, responsavelmente, com as conseqüências das escolhas, e sobre o amor de Deus para com cada um de seus filhos, tocou o coração de um jovem que, inquieto, perguntou: “E quando a gente cai?” “Levanta”, respondeu o autor. 

 “Não é tão fácil”, argumentou o jovem. “Esforço-me por viver a fé como propõe o Evangelho de Jesus Cristo. No entanto, sou constantemente atingido por experiências que me desagregam, roubam-me de meus propósitos e dos propósitos de Deus para minha vida. Se num dia estou firme, no outro, desabo. Sou consciente de meus deveres, reconheço minhas qualidades, porém, as falhas, excessos, omissões e tantos pecados, me dão a impressão, de que Deus não vai me suportar e logo desistirá de mim, de que não sou digno de seu amor e misericórdia”.

A conversa estendeu-se, evidenciando que, o conceito elaborado por aquele jovem a respeito de Deus, era mediado pela experiência vivida desde muito cedo, a partir da difícil relação com seu pai que, embora fosse um homem bom, não era capaz de demonstrar seu amor através do afeto. Sobretudo, quando o filho errava, o pai, irado, castigava-o, voltando-lhe as costas, recusando-lhe os braços, furtando-lhe os abraços tão necessários ao desenvolvimento de toda pessoa.

O caminho encontrado para sentir-se digno de merecer o amor do pai, foi absorver como valor que, jamais poderia decepcioná-lo, jamais poderia errar. Tão pesado propósito repercutiu, quando, apresentado á fé cristã que, aprendeu de Jesus, a chamar a Deus de ‘Pai’, o jovem estabeleceu, inconscientemente, a relação da imagem de Deus com a de seu severo pai. Sendo assim, cair, pecar, falhar, exagerar, omitir-se e tantas outras realidades que evidenciam fraquezas e limites próprios do ser humano passaram a ser, também, inconcebíveis, em seu universo espiritual.

Evidencia-se o quanto nossas idéias e concepções são profundamente mediadas e permeadas pelas vivências e experiências de nossa história. O jovem projetara em sua relação com o Pai do céu, o peso e a dor de sua relação com o pai da terra.  “E quando a gente cai?” Fez-se necessário, á luz da fé, percorrer o caminho que leva ao perdão: compreendendo e perdoando a dureza do pai biológico, aquele jovem permitiu-se ser compreendido, amado e perdoado por Deus. Ensina a canção: ‘E quando a gente cai Deus age como Pai, perdoa, perdoa; e torna a perdoar e ensina como amar. Eu sou contradição, eu sou imperfeição, mas Deus, Ele é perdão’.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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