Por Ivanaldo Mendonça — A lida com pessoas apresenta-se, cada vez mais, como o maior de todos os desafios. Durante um aprimoramento sobre gestão de pessoas, ouvi, acolhi e levo para a vida esta verdade: pessoas não são problemas; elas são nossos maiores desafios e nossas melhores soluções. Esta afirmação parece dizer tudo e nada ao mesmo tempo; se por um lado enche-nos de esperança, por outro, ata-nos mãos e pés.

Tempo atrás, nem tanto assim, amparados em pesquisas e estudos relevantes, empreendeu-se no universo organizacional grandes esforços para elaborar, definir, implantar e implementar os chamados direcionadores estratégicos, favorecendo, sobretudo, a clareza e objetividade, tendo em vista as intervenções mais assertivas possíveis. Conceitos como missão, visão e valores, por muito tempo, mereceram atenção, passando a ser considerados, como de fato são, imprescindíveis ao êxito de um negócio.

Outro elemento importante e desafiador a quem se dedica à gestão de pessoas concentrou-se na busca por otimizar estruturas de modo que as organizações, considerando o protagonismo de pessoas, implantassem processos sólidos, favorecendo, consequentemente, a obtenção de recursos, materializados em produtos e lucro, financeiros ou não, de acordo com o propósito de cada segmento. Muito se evoluiu na busca por sinergia na relação entre pessoas, processos e produtos.

Entendeu-se que a definição, implantação e implementação de direcionadores estratégicos, alinhados ao equilíbrio entre a gestão de pessoas, processos e produtos, lograria êxito às organizações, o que não pode ser negado. Há de se considerar, contudo, sem condenar, que tamanho empenho por objetividade e padronização não contemplou uma importante variável: os elementos próprios dos indivíduos inseridos nos contextos organizacionais, ou seja, a necessária verificação de compatibilidade entre os propósitos da organização e os propósitos das pessoas.

Nesse sentido, passa a ser notado, com mais clareza, sobretudo em instituições sem fins lucrativos e de natureza religiosa, a presença da categoria ‘dos que correm por fora’. Teoricamente incorporados e alinhados aos propósitos organizacionais, em virtude de características pessoais, sobretudo a dissimulação, estes personagens colocam a perder, conscientemente ou não, o que fora conquistado a duras penas, contrariando, direta e/ou indiretamente, os propósitos definidos e assumidos conjuntamente.

A condição de voluntários, obreiros e agentes de pastoral coloca-os na confortável seara de quem, como não recebe dividendos, pode fazer o que quer, quando quer e como quer. Não são movidos por causas nobres, tampouco pela fé, menos ainda por direcionadores estratégicos, regras ou decisões conjuntas; são obstinados por seu próprio querer, tão oscilante quanto seu humor e comportamento.

A imposição deste padrão de funcionamento doentio engole os apáticos, indiferentes e inseguros, coloca em surto organizações e gestores, impondo um sentimento de frustração por terem feito tudo e conseguido nada. Isso nos faz crer que, sobretudo onde não impera interesse comercial/financeiro, os critérios de seleção acerca de quem dispõe-se a servir e conduzir pessoas devem ser mais polidos.

O critério utilizado por Jesus: “chamou aqueles que ele quis” (Mc 3,13-19) inspira-nos a instaurar processos mais efetivos para o tão falado e já revisado ‘processo seletivo’. Mãos à obra!