Por Ivanaldo Mendonça — Celebramos, há pouco, a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, festividade popularmente conhecida como Corpus Christi. O sentido teológico desta celebração remonta á instituição da Eucaristia, à última ceia, na qual Jesus, entregando-se como alimento, eternizou Sua presença entre os homens.

O termo transubstanciação traduz a mudança da essência do pão e vinho em Corpo e Sangue do Salvador, alimento de vida eterna aos que O seguem, com fidelidade, ao longo dos tempos.

Na celebração da Santa Missa, tendo Cristo como Seu Senhor, a comunidade de fé se faz e refaz, alimentando-se e convertendo-se em alimento de vida e salvação para toda a humanidade.

A celebração eucarística consiste no ponto de partida e ponto de chegada da vida e caminhada de cada cristão católico, assim como de toda a comunidade. No dia de Corpus Christi o sentido e significado desta profunda experiência de fé ultrapassa as paredes dos templos convertendo-se em ato público de adoração.

Adornando as ruas de maneiras diversas e criativa os cristãos católicos, em Corpus Christi, agradecem a Deus por dispensar dos céus tão grande graça, a presença viva e real de Jesus na Eucaristia.

Tanto por parte das autoridades civis quanto eclesiásticas, neste ano, as medidas preventivas á proliferação do novo corona vírus impuseram à grande maioria das comunidades medidas restritivas, impossibilitando a realização das grandes celebrações e tradicionais procissões que, em muitos lugares, converteram-se, também, em atrativos turísticos.

Desde quando os templos foram fechados às celebrações com participação de fiéis, não faltam manifestações por parte de cristãos leigos e membros da hierarquia, requerendo o legítimo direito de receber a Sagrada Comunhão.

A interpretação fundamentalista e exclusivamente sacramentalista, difundida ao longo de séculos, favorece que boa parte dos católicos rompam a intrínseca relação entre fé e vida, o que explica fenômenos como: o empobrecimento espiritual, radicalismos, esvaziamento de Igrejas e a migração de católicos para outras denominações religiosas e cristãs.

Para muitos, participar da Eucaristia significa, única e exclusivamente, entrar na ‘fila da comunhão’. Ignora-se que a Eucaristia consiste numa grande ação de graças ao Pai, pelo Filho, na força do Espírito Santo, em favor da salvação de toda a humanidade.

Ignora-se que Eucaristia não se resume ao rito da comunhão, mas significa, igualmente, comunhão com a Igreja, comunhão com os irmãos, comunhão com a Palavra proclamada, comunhão de fé que se converte em testemunho de amor, inspirando os comungantes ao perene testemunho de fidelidade a Jesus e amor aos homens.

Muito preocupados em ser ‘gente da comunhão’, nada preocupados em ser ‘gente de comunhão’, ignoramos a oração popular: ‘fazei-nos sacrários vivos da Eucaristia’. Muita ‘gente da comunhão’, da obrigação e rubricas, pouca ‘gente de comunhão’, disposta á vida eucarística, que se faz no amor-doação, sobretudo, nestes tempos, quando o número de flagelados se multiplica.

Deixaria Deus de providenciar caminhos, os quais só Ele conhece, para alimentar, abastecer e fortalecer a Seus discípulos, mesmo quando este não pudessem participar da fila da comunhão?  

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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