Por Ivanaldo Mendonça – Futebol, política e religião não se discute! Recebemos e, automaticamente, transmitimos esta herança como verdade absoluta. A leitura crítica da história revela que, quando pessoas, grupos, instituições e a sociedade não são capazes de refletir, com maturidade e equilíbrio, sobre determinado assunto, pensam resolvê-lo tomando atitudes extremas, que vão desde o “está tudo liberado” ao “isso não se discute”.

Aproveitadores de todas as naturezas servem-se desta estratégia. Mantendo as coisas como estão obtêm vantagens de todos os lados; agradando a todos fazem o que querem, quando querem, como querem.

Essa herança faz-nos expectadores diante das falcatruas encabeçadas pelos “homens do povo” e pelos “homens de deus”. Contentamo-nos em expor opiniões, servindo-nos das mesmas expressões de sempre, que cabem em todos os lugares e situações: “eu não falei?”, “são todos iguais!”, “por isso que eu não me envolvo com essas coisas”.

Um povo que não reflete é facilmente manipulável.

Um povo cujas necessidades básicas de alimentação, emprego, educação, moradia e saúde não são atendidas, recorre à religião como uma válvula de escape, tornando-se preza fácil dos corruptos políticos, que os compram por muito pouco e dos corruptos religiosos que os compram por muito.

Assim, a corrupção política e a corrupção religiosa passam a caminhar de mãos dadas; os discursos religiosos, embasados na teologia da prosperidade, amortizam os impactos das injustiças sociais, colocando como medida excelente da fé o êxito material e financeiro, fazendo da relação com o Sagrado uma barganha.

Quando estes usurpadores têm uma causa comum, unem-se estrategicamente e combatem como irmãos; quando têm o poder e controle do rebanho ameaçado, inclusive um pelo outro, dividem-se, atualizando o episódio bíblico de Abel e Caim que, adaptado a realidade, poderia chamar-se Caim X Caim.

Deus onde entra nessa história? Ele, Criador de todas as coisas, Senhor de todos os senhores, que, como atestam as Sagradas Escrituras, chama, escolhe e unge os pastores políticos e os pastores religiosos para conduzir Seu rebanho? Ele também é obrigado, por seus representantes, a ser mero expectador, assistindo ‘seus’ pastores, como lobos, devorarem Seu rebanho.

E o futebol onde entra nessa história?

O futebol, a novela, o carnaval, entram como instrumentos da estratégia do “pão e circo”; como anestésicos que vêm apaziguar a reflexão, as discussões saudáveis, fazendo-nos lembrar e, mesmo sem saber o porquê, continuar advogando, de boca cheia que “futebol, política e religião não se discute”.

E há quem diga amém.

Ivanaldo Mendonça
​Padre, Pós-graduado em Psicologia
ivanpsicol@hotmail.com