selo-ivanaldoPor Ivanaldo Mendonça — A Páscoa, evento que rememora a maior verdade da fé cristã, celebra a Ressurreição de Jesus. Oferecendo a própria vida, derramando seu sangue na cruz, Ele vence definitivamente o pecado e a morte, tornando realidade a vontade de Deus: salvar a humanidade, resgatando a dignidade humana em sua plenitude.

Ressuscitado, o Nazareno passa a ser chamado pelo sobrenome “Cristo”, que significa ungido, messias.

Na contramão da Páscoa e seu significado está a figura de Judas, o apóstolo que, por 30 moedas de prata, entregara o Mestre aos soldados romanos. tornando-se figura emblemática: o número 1 na lista dos maiores traidores de todos os tempos. Embora a atitude da traição seja abominada, traições e traidores estão em todos os espaços e lugares.

Se perguntarem a um desses: “Você assume ser traidor”? Ele negará. Se perguntarem a nós: “Você assume ter traído?” Negaremos. A verdade é que, sob seu ponto de vista, o traidor possui razões suficientes para agir; ao que denominamos traição ele dá nome diferente e significado positivo.

Judas encontrou razões e argumentos que atestassem sua atitude. A principal suspeita era a de que Jesus fosse um insurgente político; a Ressurreição só foi “entendida” após Sua crucifixão e morte; os fatos só foram registrados anos após os acontecimentos. Apresentar as razões do traidor não significa concordar com sua atitude. O que leva alguém a trair? Para além das razões evidentes ao traidor, para além das razões identificadas pela maioria das pessoas, há razões mais profundas, invisíveis aos olhos.

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A falta de amor próprio decorrente da ausência da autoconsciência gera constante sensação de angustia e perda, distorcendo, negativamente, a auto-imagem e a visão da realidade. Este conflito pessoal estende-se às pessoas e objetos; o outro é tido sempre como ameaça, ora porque tira do potencial traidor algo que ele julga ser seu, ora porque não lhe dá algo que ele julga merecer. Para obter vantagem, a menor que seja, ele trai. Motivações externas como ostentação, inveja e poder, são consequências dos desajustes internos.

O traidor será sempre incompleto e insatisfeito. Surpreendido pelo resultado de suas atitudes, entra em profunda crise. Muitos sucumbem, como fez Judas, suicidando-se, enforcando-se de uma vez; outros se recompõem e seguem traindo, suicidando-se, enforcando-se aos poucos, a cada dia. Se racionalmente é tão difícil lidar com a realidade da traição, a Páscoa convida-nos a, na força da fé, evocar a amorosa frase de Jesus, expressa simultaneamente à Sua atitude de entrega total: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”.

Feliz e abençoada Páscoa, todos os dias!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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