Por Ivanaldo Mendonça – Diante de uma linda paisagem a sensação de leveza toma posse do nosso ser. Maravilha-nos a singeleza e riqueza de detalhes de um jardim: beleza, raridade das espécies, riqueza de detalhes, perfume…

Encanta-nos o exemplar de uma árvore que com seus galhos abraça-nos, com sua sombra refresca-nos, com seu tronco apóia-nos e, com seus frutos, alimenta-nos. Ao contemplar a beleza das árvores olhamos para o alto, ao contemplar a beleza das flores olhamos do alto, a partir de cima.

Embora contemplar o resultado acima citado nos remeta ao alto, é no chão que tudo começa. No chão está o húmus, palavra latina que significa “filhos da terra”, de onde se origina a palavra e o conceito humildade, qualidade daquele que não tenta se projetar sobre outras pessoas, nem mostrar ser superior. Húmus é a matéria orgânica depositada ao solo, resultante da decomposição de animais e plantas mortas ou seus subprodutos.

O humilde está ao chão, como o húmus; consciente de si faz-se pequeno, voluntariamente; não se compara nem concorre com ninguém; suas referências não são os outros, mas ele próprio, a partir do seu interior; tem consciência de suas fraquezas e limitações.

Ser humildade é um desafio. Mais que estar presente é necessário deixar-se envolver como o húmus se mistura à terra a ponto de se tornarem um só, terra saudável, terra boa. Húmus amontoado apodrece, cria bicho, perde a utilidade, fede. O humilde não fica parado, calado, acomodado; ele sai, vai ao encontro, deixa-se abraçar e abraça.

Humildade aliada à sabedoria dá condições de discernir e identificar pedras, sementes de ervas daninhas e tudo o mais que, de alguma forma, compromete o êxito do processo. Muitas vezes estes elementos estão escondidos em nós, como no húmus.

O humilde é quem ele é, nem mais, nem menos. Cordialidade, respeito, simplicidade, modéstia e honestidade, nobres virtudes, não são sinônimos de humildade que tem, em sua contramão, o orgulho, atitude de quem se vangloria.

Os humildes estão ai! Quer encontrá-los? Olhe para baixo, ao chão, pisados, não por serem menores, mas por serem sustento. Se doam, todos os dias, discretamente, como amor, alegria, esperança e gratuidade.

O mundo moderno, evoluído em tantos aspectos, reconhece o valor da humildade, mas não se dispõe a começar pelo chão, insiste em começar a construção da casa pelo telhado, fracassando.

Os homens e mulheres inesquecíveis, imortais na memória e coração da humanidade são humildes; fizeram e fazem a diferença de forma transformadora, a partir do chão. Ao contemplar a beleza das paisagens, os jardins, as flores, não os notamos, mas eles estão aí, bem à vista, presentes, silenciosamente, em cada detalhe, como o húmus.

Ousemos ser humildes!

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
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