“Por muito menos” é o título de artigo assinado pelo bispo diocesano Dom Milton Kenan Júnior, de Barretos, faz severas críticas ao cenário crítico da política brasileira. “Não é difícil perceber a saturação que o povo brasileiro sofre há meses, com notícias escabrosas que envolvem quantias milionárias”, assinala, em referência aos escândalos como Mensalão, Lava Jato, por exemplo.

“Nestes meus anos de cidadão brasileiro e bispo nunca acompanhei uma ação tão contundente do Ministério Publico Federal e da Polícia Federal em apurar os fatos e, punir os culpados”, assinala o religioso.

Leia abaixo, na íntegra, a manifestação do bispo… ‘Por Muito Menos…

Dom Milton Kenan Jr — Não faz muito tempo nosso país sofreu o trauma de um impeachment que afastou o então presidente Fernando Collor de Mello do governo de nossa Nação. Aqueles e aquelas que viveram, naquela ocasião, se recordarão do clima de instabilidade criado no país com as denúncias de crimes semelhantes aos que vemos hoje publicados pela imprensa brasileira.

Mensalão fotoPor muito menos, do que assistimos hoje, a oposição naquela ocasião (que hoje tornou-se a situação) movimentou multidões que ocuparam praças públicas exigindo a renúncia ou o afastamento do Presidente da República. Por ironia do destino muitos daqueles, que no passado exigiam a aplicação da lei sobre as instituições, hoje, esforçam-se por burlá-la ou fugir dela.

Como se não bastasse a vergonha que os brasileiros sofrem diante dos fatos, a sensação do ludibrio vivido durante anos, a perda da credibilidade da Nação diante do mundo e, a desesperança que invade aqueles que depositaram anos atrás a esperança de um novo Brasil, hoje, sofremos com a busca sórdida de poder, a partir do ‘custe o que custar’.

Não é difícil perceber a saturação que o povo brasileiro sofre há meses, com notícias escabrosas que envolvem quantias milionárias, que foi aos poucos infiltrando nas instâncias políticas deste país criando a cultura do crime, do roubo, da vantagem, às custas dos milhões de cidadãos brasileiros que enfrentam chuva e sol para sobreviver.

Quem tem memória certamente haverá de convir comigo que nosso país está ainda engatinhando no caminho da democracia!  Digamos que as aspirações que alimentaram nossos jovens de cara pintada e muitas gerações de políticos que sofreram na pele com os ditames da ditadura, os sonhos que culminaram na Constituição de 1988, com o Movimento Diretas Já, e muitos outros episódios que enobrecem nossa história, estão longe de se tornarem realidade.

As instituições, cuja tarefa é defender os interesses da Nação, hoje, tornaram-se vítimas de facções que disputam não só interesses partidários, mas as vantagens que o compadrio assegura e a corrupção acumula. Triste realidade!

Situações como a degradação do meio ambiente, provocada por setores privados que se instalaram com a anuência do poder público, como é o caso da Samarco Mineradora, responsável pelo rompimento da Barragem de Mariana que levou à morte a Bacia do Rio Doce e compromete ainda hoje o litoral de vários Estados brasileiros; a triste realidade do sistema prisional brasileiro, que se tornou manchete nos jornais nesta última semana, que chega ao colapso;  o assassinato de líderes campesinos e o descaso para com os indígenas, que lutam por sobreviver nas suas terras; a precariedade do sistema hospitalar incapaz de atender a demanda por falta de recursos e de apoio do Estado, demonstram que  nestas últimas décadas o nosso país não mudou.

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Nestes meus anos de cidadão brasileiro e bispo nunca acompanhei uma ação tão contundente do Ministério Publico Federal e da Polícia Federal em apurar os fatos e, punir os culpados. Muitos da minha geração irão lembrar o que afirmou um Ministro da República, anos atrás quando interrogado por qual a razão que o país vivia situações tão chocantes como nosso país viveu e vive, e ele respondeu com a sabedoria de alguém que via não só além, mas atrás dos bastidores: “O problema do nosso país é a impunidade!”.

Os homens e mulheres de bem deste país haverão de orgulhar-se com a ação levada a termo pela Justiça Federal, e pelo Ministério Público Federal em elucidar os fatos e punir os culpados. A ação deles não nos permite desanimar!

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Por muito menos nós choramos e rimos! Por muito menos não desistimos da esperança. Agora cabe-nos chorar e rir, mas jamais deixar de esperar e lutar para que a nossa história seja passada a limpo e, consigamos ver surgir para nós um futuro marcado pela verdade e pela paz.

* Dom Milton Kenan Junior é Bispo diocesano