Por Ivanaldo Mendonça — O itinerário proposto pelo período quaresmal visa favorecer que, no esforço por viver o seguimento fiel de Jesus, cada batizado coloque-se em atitude de conversão, permitindo-se ser conduzido pela graça de Deus, rumo à celebração de uma nova Páscoa, circunscrita pelos limites do tempo cronológico, e na espera, ansiosa, pela Páscoa definitiva, quando, viverá, eternamente, as alegrias dos céus.  A cada semana, este precioso tempo apresenta um novo desafio sempre pautado á luz da Palavra de Deus.

O episódio da ‘Transfiguração de Jesus’ (Lc 9,28b-36), relatado pelo Evangelho Segundo Lucas, lança luzes sobre a caminhada, possibilitando-nos ultrapassar a visão superficial, centrada, exclusivamente, no esplendor da cena, despertando-nos a atenção ao conjunto da obra e, sobretudo, à mensagem que o autor sagrado objetiva comunicar.

O relato que consiste no prenúncio da ressurreição, da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, visa despertar, nos cristãos de todos os tempos, a capacidade de vislumbrar o que lhes aguarda e a manterem-se firmes na fé.

Para tanto, existe um percurso no qual cada movimento possui valor significativo. Faz-se necessário recuperar e valorizar a noção de ‘processo’, a fim de que não nos percamos na tentação da presa, querendo tudo ao mesmo tempo, tampouco, na apatia, no tanto fez ou tanto faz. A muitos, ditos crentes, a relação com o sagrado resume-se em espetáculos, geralmente, movidos por experiência de cunho emocional, cuja grande meta é proporcionar bem-estar. O Evangelho não coaduna com esta postura, pelo contrario, exige tomada de posição e contato com a realidade.

À cena da transfiguração existe um num antes e um depois, que não podem ser desconectados. A iluminação divida é precedida pela oração, exercício que coloca-nos em profunda sintonia com Deus, possibilitando-nos falar-Lhe sobre nós, assim como ouvi-Lo. O grau máximo da oração, a contemplação, insere-nos num nível de intimidade que dispensa palavras; a cena da transfiguração consiste na contemplação da glória de Deus manifesta através da ressurreição de Jesus.

A oração precede a iluminação; é preciso vencer a tentação do sono, da apatia, do atordoamento.

À cena da transfiguração segue-se o descer da montanha, conscientes de que a glória só será alcançada através da cruz. Descer da montanha significa considerar a realidade com suas belezas, limites e imperfeições e, tendo presente a meta definitiva da existência, que é contemplar o Senhor eternamente, comprometer-nos em transfigurar, marcar com a luz divina todas as realidades.

Pseudo-iluminados não partem da oração que leva á contemplação, não descem da montanha, não assumem a cruz e tudo o que isso implica. Os verdadeiramente iluminados, pela graça de Deus, convertem-se, cada vez mais, em iluminadores!  Ser humano em novos tempos exige que sejamos iluminados e iluminadores!

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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