Ivanaldo Mendonça — Certamente você, assim como eu, já chorou muito. Horas o choro foi supervalorizado por quem participou de nossa dor; horas o choro foi menosprezado por quem considerou-nos exagerados.

De maneira geral nossa relação com o choro e as lágrimas é complicada. Culturalmente aprendemos que chorar é sinônimo de fraqueza; o machismo faz recair sobre os homens o pesado fardo ‘homem não chora’. Muitas vezes choramos sem lágrimas.

Notemos que, muito embora fisiologicamente, as lágrimas nasçam no mesmo lugar e percorram sempre o mesmo caminho antes de saltar aos nossos olhos, em cada ocasião elas possuem um tom, uma cor e um sabor diferente.

Lágrimas não são causa, mas, sintomas. Cada lágrima possui razão, história, sentimento e inspiração próprios. Também, na contramão do senso comum, nem sempre chorar alivia, nem todas as lágrimas curam.

Os monges referem-se á oração como meio especial que favorece o autoconhecimento e ás lágrimas como elemento terapêutico no caminho de purificação e libertação do homem. No percurso do amadurecimento espiritual, as lágrimas surgem do pesar pela separação de Deus, do luto pela salvação perdida, e da consciência do pecado, que nos distância do coração do Senhor.  ‘Pesar’ nada tem a ver com tristeza, falta de ânimo, depressão, pessimismo ou resignação, mas, significa chorar sobre os próprios pecados para, a partir daí, renascer.

Consideram os monges: apenas as lágrimas autênticas purificam o coração. Isso significa que existem lágrimas não-autênticas ou falsas lágrimas. Dentre elas destacam-se:

  1. As lágrimas infantis, que derramamos quando não conseguimos o que desejamos
  2. As lágrimas de ressentimento e medo
  3. As lágrimas de ira, raiva e impotência
  4. As lágrimas de autocompaixão. Nenhuma destas lágrimas pode curar-nos. As falsas lágrimas têm como característica especial sugerir que tudo gire em torno da própria pessoa, fazendo dela o centro do universo. Estas lágrimas aprisionam.

As lágrimas verdadeiras, as que curam, têm como característica especial conduzir o homem a Deus; fazer com que ele se liberte de si mesmo, daquilo que o prende, escraviza e diminui.

O choro autêntico é sinal de que nos encontramos com a verdade, de que encontramos a nós mesmos. Ele possui uma força de conhecimento especial: revela a verdade das coisas, clarifica. Ai sim!As lágrimas de pesar transformam-se em lágrimas de alegria!

Dialogar com o choro e as lágrimas não apenas é importante, mas necessário. Vale a pena refletir e rezar: estas lágrimas são verdadeiras? De onde elas vêm? Para onde elas querem me conduzir? Choremos sim! Lágrimas curam quando são autênticas, verdadeiras e maduras!

Boas lágrimas para você!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

ivanpsicol@hotmail.com