Por Ivanaldo Mendonça — Num misto de angústia, medo e desespero, saíra de casa decidida. Certamente esgotara os recursos e alternativas que estavam ao seu alcance, a fim de salvar a vida da filha, sem encontrar solução. Não seria nada fácil. Era cananéia, considerada pelos judeus deserdados das bênçãos de Deus; era mulher, sem voz, sem vez, sem direitos; estava sozinha. Seria prostituta? Tudo conspirava contra ela. Quem já viveu algo assim, sabe o que significa estar desorientado.

Sem nada a perder, apertada pela multidão, sem condições de aproximar-se, pôs-se a gritar: “Senhor, filho de Davi, tende piedade mim; minha esta cruelmente atormentada por um demônio!”. Logo um representante da situação sugeriu ao Mestre ordenar que ela se calasse. Se gritaria de mulher irrita, inclusive, outras mulheres, muito mais irrita os homens. Jesus também se sentiu incomodado. No entanto, ao invés de repreender e reprimir optou por acolher e ouvir. Muitas coisas nos incomodam, no entanto, nós decidimos como reagir ás provocações.

Jesus estabelece diálogo, a princípio duro e incisivo. Enviado ao povo de Israel esclarece que outros povos não são prioridade de sua missão. Isto seria suficiente para que qualquer um, sobretudo um pagão, fosse embora sob as vaias da multidão. Ela surpreende: ajoelha-se, clama por salvação: “Senhor, socorre-me”. Jesus replica, referindo-se aos judeus como ‘filhos’ e aos pagãos como ‘cachorros’. Quem suportaria tal humilhação? A tréplica é bombástica: “É verdade, Senhor, mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos”.

Se aquela mulher sabia que não estava diante de qualquer mestre, Jesus deu-se conta, também, de que não estava diante de qualquer mulher. Reconhece: “Mulher, grande é a tua fé” e conclui: “Seja feito como tu queres!”. O evangelista atesta que sua filha fora curada (Mateus 15,21-28). A passagem de rico sentido teológico evidencia a abertura da salvação aos pagãos e, consequentemente, todos os povos, assim como a sede do amor de Deus presente em tantas pessoas que crêem firmemente.

  1. A atitude da mulher muito ensina quem se dispõe a seguir Jesus fielmente.
  2. Ter clareza sobre o que queremos
  3. Ter convicção de que nada será fácil;
  4. Ter disposição para enfrentar tribulações sem desviar o foco;
  5. Não parar diante de palpites;
  6. Ser perseverante, persistente; 6. Não mudar o propósito frente a possíveis desfeitas;
  7. Aceitar humilhações em vista de um bem maior;
  8. Sofrer por alguém ou alguma causa nobre.

Graças à observância destes princípios e, sobretudo, a força da fé, ela voltou para casa com aquilo que fora buscar: a cura de sua filha. Ela venceu!

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
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