Por Ivanaldo Mendonça — Abordando o tema família, a reflexão apresentara o amor entre os pais como referência e elemento fundante á vida familiar, desdobrando-se, dentre outras coisas, na existência, vida, zelo e educação dos filhos. Apresentadas as referências, deu-se espaço á colaboração dos participantes.

Subitamente, uma adolescente reagiu. Indignada, manifestou ser totalmente favorável ao aborto. Dentre seus argumentos estava que: embrião não é gente, sequer tem rosto, nem sabemos quem ele é, e que, portanto, não faria diferença alguma se nascesse ou não. Questionada, a mocinha contorcia-se, rangendo os dentes. Advertida por alguém que não sabia muito bem como fazer, respondeu agressivamente, com ameaças e afrontas.

Não devemos arriscar tampouco reduzir a compreensão desta situação, apenas, ao que foi manifesto pontualmente. Por tratar-se de adolescente, é esperado, diante daquilo que não concordam, que se expressem exageradamente, pois não estão em condições de saber, tampouco possuem recursos para encontrar a justa medida para cada coisa, em virtude de sua atual fase de desenvolvimento.

Há de se considerar o contexto familiar e social daquela que expressara tanta indignação: era fruto de uma gravidez indesejada, não assumida pelo pai, e que pesara muito á mãe. Mesmo os pais tendo se casado, tempos depois, não viviam bem até que a separação apresentou-se como possível solução, o que também não aconteceu. Muito embora fosse aquela menina fisicamente bonita, de face facilmente identificável, sentia-se totalmente ignorada, pouco ou quase percebida por aqueles que deveriam amá-la e educá-la.

Embora a reação da adolescente provoque espanto e indignação em muitos, e o conteúdo de sua reação nos indigne, com maturidade e equilíbrio, percebamos que ela, não excomungava o embrião humano e, no fundo, talvez não fosse tão favorável assim ao aborto, até porque não tem condições plenas de emitir um juízo dessa natureza. Aquela menina chorava e expunha suas dores, seus dramas, seus medos e revoltas por não compreender e aceitar, as razões pelas quais as pessoas são capazes de defender um ser que não nasceu e não tem rosto, e ninguém se move para cuidar dela, que não é um embrião, tem rosto e é bonita. Talvez desejasse ela não ter nascido á sofrer tanto.

Compreendemos, também, embora não devamos aceitar, a reação agressiva de tantos, adolescente ou não, que, por não conseguirem aceitar, suportar e administrar suas dores, convertem-se, amparados, inclusive, externamente, por argumentos científicos, mas movidos, internamente, por desafetos, em devoradores da vida, mais que  de outros, de suas próprias, como se não aceitassem ter nascido.

 

 

 

 

 

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia