Por Ivanaldo Mendonça — Estamos na Semana Santa! Aos católicos este tempo ocupa lugar especial, por ser a semana mais importante no calendário litúrgico, e por celebrar o evento central da fé cristã: o mistério da paixão-morte-ressurreição de Jesus.

Deus, para redimir a humanidade do pecado, livrando-a da morte, assume, em Jesus, a condição humana, morre na cruz e, ressuscitando-O, reabre, á humanidade, as portas da eternidade. Este acontecimento não é mistério por ser tenebroso, mas, por ser grandioso, por colocar o homem diante de uma realidade que, por si só, ele não alcança nem esgota. É mistério da fé! Obra de Deus disponível a quem se deixa conduzir pela força da fé, assumindo Jesus Cristo como Senhor de sua vida.

Muito embora o amor de Deus seja sempre acessível, a Semana Santa celebra este dom solenemente, propondo aos crentes, acompanhar os últimos passos de Jesus e, com Ele, Nele e por Ele, celebrar a vitória da vida. A Páscoa rememora a obra redentora do Criador que ama acima de todas as coisas, revelando ao homem o real sentido de sua existência: pertencer a Deus, não como propriedade, mas, por adesão livre, consciente e responsável.

Rica em sentido e significado, a semana santa é confundida por muitos com feriado. O valor espiritual é renegado a passeios; silêncio e introspecção cedem lugar á barulhentas festas; jejum e abstinência de carne são sufocados pelo desperdício; Igrejas vazias, shoppings abarrotados; no contraponto do perdão, violências mil. Como compreender tamanha contradição?

Aos olhos humanos, puramente, Jesus é um derrotado. Aos olhos humanos admitir fragilidades e limites é fracassar, reverenciar o divino é primitivo, promover o diálogo é prejudicial, mergulhar no silêncio é retrógrado, celebrar a fé é alienante; participar das dores de alguém é absurdo; ser ultrajado é vergonhoso; confrontar-se com as misérias é demoníaco.

Novamente o mistério se revela, a história se repete. O homem que, cheio de si, ignora a Deus, não consegue lidar com a depressão, o medo e o pânico, impotência disfarçada com tantos nomes e justificativas. O homem que é ‘só’ homem nega-se a reconhecer e pertencer a Deus. Existe unicamente, ao alcance dos olhos, da aparência, da força e dinheiro.

Deus age na contramão, amorosa e escandalosamente, colocando o homem defronte aquilo que ele realmente é: ‘apenas homem’, verdade que apavora. Aparentemente a Semana Santa nada apresenta de interessante e vantajoso. É a semana do fracasso e, como não admitimos fracassar, insistimos em fazer de conta que somos felizes.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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