Por Ivanaldo Mendonça – É recorrente na literatura bíblica a expressão “Não tenhais medo”. De maneira geral ela aparece no contexto da missão. Ao profeta Jeremias que, diante do chamado justifica-se por ser muito jovem o Senhor manifesta “Não tenhais medo, pois eu estou contigo para defender-te” (Jeremias 1,8).

Aos discípulos enviados à outra margem do lago e que, quando viram Jesus caminhando sobre as águas, pensando ser um fantasma, ficaram atemorizados Ele diz: “Coragem! Sou eu! Não tenhais medo” (Mateus 14,22-23).

Tendo em vista esclarecer, inspirar e fortalecer os que verdadeiramente dispõem-se a viver com amor e fidelidade o Evangelho, debruçando-nos sobre o sentido e significado do medo consideremos, primeiramente, seu sentido positivo, ou seja, a reação de aversão ao que nos coloca em perigo e que, por isso, deve ser evitado.

Nesse sentido o medo converte-se em elemento necessário á auto-preservação e a preservação da espécie; não temer lançar-se á frente de um veículo em alta velocidade, por exemplo, é insano, doentio.

O sentido negativo do medo equivale a pensamentos, sentimentos, comportamentos e atitudes que, roubando-nos de nós mesmos, impedem-nos de ser o melhor que podemos, de ocupar nosso espaço com dignidade, de cumprirmos nossa missão com excelência.

É comum justificarmos nossas recusas e medos a partir de elementos externos: medo do escuro, medo de fulano, medo de altura… No entanto, muito mais que de fatores externos o medo paralisante e aterrorizante, emerge das profundezas do ser, sabotando nossas vidas.

“Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado e, nada há de escondido que não seja descoberto” (…) “Não tenhais medo dos que matam o corpo mas não podem matar a alma” (…) “Não tenhais medo de se declarar diante dos homens a meu favor” (Mateus 10, 26-33).

A advertência de Jesus aos discípulos enviados em missão ecoando ao longo dos tempos chega até nós, ajudando-nos a refletir e rezar acerca das realidades que nos impedem de viver o Evangelho com radicalidade, no amor e misericórdia.

O ‘medo dos homens’ impera quando colocamos nossa vida á mercê de critérios e juízos puramente humanos, que exigem nossa infidelidade.

O ‘medo dos que matam o corpo’ impera quando nos acovardamos diante de ameaças e perseguições, que exigem nossa contradição.

O ‘medo que Deus nos abandone’ impera quando não nos confiamos, verdadeiramente, aos Seus cuidados.

O medo que atormenta muitos dos que se dizem cristãos é sintoma de o quanto não permitem que Deus habite o mais profundo de seu ser e se converta em sua força, sua luz e salvação.

Não tenhais medo!

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
[email protected]