Por Itamar Miranda Machado — Este artigo tem o objetivo de contextualizar em que estágio se encontra a crise financeira do país, para isto, será necessário mencionar os impactos que a crise política gera na economia, mas não tem objetivo de comentá-la, isto fica a cargo dos cientistas e analistas políticos.

Itamar Miranda Machado
Itamar Miranda Machado

A crise financeira começou a se agravar no final do ano de 2014 com o avanço da divulgação do esquema de pagamentos de propinas nos contratos da Petrobrás, a chamada “Operação Lava Jato”. As acusações mostraram o envolvimento de dirigentes, políticos e pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT) neste esquema de corrupção, isto abalou a confiança de investidores tanto nacional, como internacional, em relação ao governo federal.

No início de 2015 a Presidente Dilma foi empossada para o seu segundo mandato e nomeou a nova equipe econômica, comandada pelo Ministro Joaquim Levy, que dentre outras coisas fez severas críticas a algumas medidas tomadas pela equipe anterior, chamando as de “brincadeira” o que desagradou a Presidente. Também anunciou um plano de ajuste fiscal que desagradou a lideranças sindicais e também aos empresários, pois contemplava o aumento da carga tributária.

chargecrisePara agravar ainda mais a situação alguns aumentos como de combustível e energia elétrica que, erradamente, foram represados pelo governo, uma vez que temia problemas de popularidade nas eleições de 2014, foram liberados no 1º trimestre de 2015, gerando aumento da inflação.

Como se tudo isto não bastasse, houve a rejeição por parte do Tribunal de Contas de União – TCU das constas apresentadas pelo governo federal, o que desencadeou o pedido e aceitação, por parte do congresso, do processo de impedimento da Presidente Dilma, o chamado impeachment.

Todos estes fatores mencionados levaram o país a uma grande crise de desconfiança por parte de investidores e empresários, com fuga de capital para o exterior, o que elevou a taxa de câmbio. O dólar no final de 2015 ultrapassou a casa dos R$ 4,00 contribuindo também para o aumento da inflação.

O Banco Central na tentativa de conter a inflação começou a aumentar a taxa de juros do país. No final de 2014 a taxa Selic estava em 11,75% e em julho de 2015 atingiu a 14,25% permanecendo até hoje. Esta foi uma medida errada do Banco Central, uma vez que aumentou a taxa de juros, mas a inflação não caiu.

A tendência é que o aumento da taxa de juros reduz o crédito e diminui o consumo, isso pressiona os preços para baixo, consequentemente reduz a inflação.

Outro fator preponderante é que juros altos levam os investidores a aplicar o seu dinheiro no mercado financeiro, reduzindo os investimentos na produção, o que também força a redução dos preços. No entanto, isto gera um efeito colateral muito perigoso, uma vez que a redução da produção e do crédito promove o aumento do desemprego levando o país a uma grande recessão.

Em resumo: se de um lado há uma crise de desconfiança, por outro lado, há uma taxa de juros atrativa, com isto, o investidor prefere colocar o seu dinheiro no mercado financeiro, reduzindo a produção e aumentando a recessão. O que o Banco Central ainda não entendeu é que a inflação não subiu em função do aumento de consumo, mas, sim, pelo aumento de tarifas controladas pelo governo, como a energia elétrica e o combustível.

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Então, qual é o estágio da crise financeira ? quando vamos sair desta situação ?

Considerando que:

  1. O afastamento da Presidente Dilma trouxe uma retomada de confiança para o meio empresarial.
  2. A equipe econômica do Governo Temer tem credibilidade junto ao mercado internacional, prova disso que a taxa de câmbio já caiu para a casa de R$ 3,20.
  3. Há uma grande possibilidade que na próxima reunião do Copom – Comitê de Política Monetária, no final de agosto, que a taxa Selic caiará, pelo menos, para 14%. O mercado financeiro já trabalha com a hipótese desta taxa fechar o ano entre 13,5% e 13,75%.
  4. A Petrobras, uma das responsáveis por esta crise, apresentou lucro líquido positivo no 2º trimestre, gerando otimismo entre os investidores.
  5. O governo tem conseguido aprovar suas pautas no congresso, o que demonstra apoio da classe política às medidas econômicas.
  6. A taxa de desemprego não tem aumentado, chegou a altíssimos patamares de 12% e se estabilizou.

Assim, em função deste conjunto de fatores, no meu entendimento, a economia já começou a esboçar uma reação, embora ainda tímida, mas importante, pois deixou de cair e começa, lentamente, a subir.

Esta subida (melhora) ainda vai demorar um pouco a ser percebida, pois as empresas, principalmente, as indústrias, estão trabalhando com grande ociosidade, assim, para apresentar crescimento, é necessário primeiro retomar a capacidade produtiva, para depois começar a crescer e gerar novos empregos, reduzindo a recessão, ou seja, fazendo uma metáfora: o copo está vazio, então, primeiro é preciso começar a enchê-lo, para depois transbordar.

Portanto, considerando, que até o final de agosto a questão do impeachment estará definido, é possível enxergar um horizonte de tempo otimista, onde: devemos ter a retomada do crescimento ainda no 4º trimestre deste ano, sendo percebido pela população, de modo geral, no final do 1º trimestre de 2017, ou seja, em meados do mês de março.

Também, estimo, que vamos retomar o crescimento nos patamares desejados, deixando definitivamente a crise para trás, ao longo de 2018. Assim, podemos afirmar que o pior já passou, daqui pra frente o crescimento será lento, mas certo.

Itamar Miranda Machado, Mestre em Controladoria e Contabilidade pela USP. Consultor e Professor na área de Controladoria e Finanças