selo-ivanaldo2Por Ivanaldo Mendonça — Aquele que crê confiar em Deus é um imperativo! As grandes religiões monoteístas têm o princípio da confiança em Deus como fundamento de fé. Tanto vimos, ouvimos e falamos sobre a importância e necessidade da confiança em Deus, quanto somos interpelados, constantemente, a respeito deste valor. Na teoria, confiar em Deus é como um dispositivo interno existente, necessariamente, em todo aquele que crê. Na prática, existem contradições: Há quem crê, mas não confia; há quem crê, confia e enxerga os frutos; há quem crê e confia e não enxerga os frutos.

Consideremos, primeiramente, a necessária distinção entre ‘ser crente’ e ‘ser fiel’. O crente acredita; nesse sentido é comum dizer que, todo aquele que acredita é crente, independentemente da religião professada. O fiel é aquele que crê e empreende contínuos esforços para viver, fielmente, o que acredita. Enquanto o unicamente crente compreende a fé de forma abstrata, como uma idéia, o fiel compreende a fé de forma concreta, como uma experiência. A reflexão sobre a relação crença-fé, permite-nos ir além, abordando a atitude da confiança em Deus.

‘Eu confio em Deus!’ Esta expressão tão comum, aprendida e ensinada ao longo dos tempos, torna-se causa de tormenta a muitos, sobretudo, quando, diante das tempestades e contrariedades da vida, não alcançam tudo o que esta verdade de fé significa. Nesse sentido, o controle da atitude de confiar está no ‘Eu’. Há quem compreenda a confiança em Deus como movimento que tem causa em si próprio e que, para produzir efeitos e frutos depende de seus próprios esforços. Dispenso a ação Dele (Deus), concentro todas as forças em mim (Eu).

‘É feliz quem a Deus se confia’, ensina o primeiro dos Salmos, livro da Sagrada Escritura, composto por hinos que traduzem situações próprias da vida de todo ser humano, motivando aquele que ultrapassa o limite da simples crença e adota a postura de fé, a lançar-se nos braços do Pai. Nesse sentido, a atitude de confiar depende de mim, do Eu, mas o controle da ação está Nele, em Deus. Assim, confiar é doar-se, entregar-se inteiramente, permitindo-se, não obstante dificuldades, contrariedades e tribulações, ser por Deus conduzido.

Se por um lado a aparente semelhança entre ‘Eu confio em Deus’ e “É feliz quem a Deus se confia”, faça-nos absorver delas o mesmo entendimento, como se dissessem a mesma coisa, por outro, permite-nos ultrapassar o formato das letras e combinação das palavras, para mergulhar, profundamente, em seu real sentido e significado. Que de fato, quando, através dos lábios expressarmos ‘Eu confio em Deus’, através do coração expressemos “É feliz quem a Deus se confia”. Para além da atitude de simples crença, na atitude de fé, professemos e testemunhemos: Sou feliz porque a Deus me confio. É feliz quem a Deus se confia!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

ivanpsicol@hotmail.com