Neste sábado, dia 19 de junho, é celebrado no Brasil o “Dia Nacional do Luto”, uma data dedicada à reflexão e aos sentimentos de perda. Desde sempre escutamos que aceitar a morte de alguém obedece a um ciclo quase ritualizado em que a dor sentida tem que ser aglomerada à visão do corpo inerte, frio, sem vida.

Esse momento duro e de choque seria especialmente necessário para a aceitação da finitude e daria lugar a um novo ciclo, uma nova estrada sem essa pessoa. Mas a época que vivemos fez com que tal não fosse possível.

Brasileiro membro da Federação Europeia de Neurociências diverge do tradicional em manter a memória sem elaborar o luto

A pandemia da covid-19 afastou-nos dessa parte, afastou-nos da visualização do corpo morte, afastou-nos desse luto palpável. Poderíamos esperar portanto que o ciclo do luto não fosse completado. No entanto, para o PhD, neurocientista, neuropsicólogo e biólogo Fabiano de Abreu (foto), as coisas não tem que ser exatamente assim.

” Eu aceito essas estratégias comumente usadas para aceitar o término. No entanto, eu acredito muito mais no uso da inteligência emocional. Um luto em que a consciência e a razão estão presentes. Não ver o corpo não tem que significar a não aceitação da morte. Está relacionado ao sistema límbico que se conecta com o córtex pré-frontal e este, por sua vez, pode racionalizar e amenizar o primeiro.”, esclarece.

Para Abreu, o não ver o corpo pode até acarretar aspetos positivos.

” A perda pode ser melhor aceita quando trazemos à consciência a natureza da morte e a percepção sobre a vida. Não ver a pessoa morta pode se tornar positivo pois vamos reter na memória, as imagens e as vivências boas. É-nos possível fazer um engrama (traço definitivamente impresso na psique por uma experiência física), uma pista neuronal dos momentos bons sem que o momento de choque possa criar um engrama maior de cunho negativo.”

O neurocientista não descarta a importância dos passos naturais que são dados quando alguém falece mas ressalva que o saber usar a nossa inteligência emocional pode ser tanto ou mais importante.

” O que realmente importa é que consigamos sentir que somos inteiros depois da partida de alguém. Alcançar um patamar em que ao recordar essa pessoa apenas as boas memórias prevalecem ajudará muito a encontrar o nosso bem-estar. A não presença dói mas recordar o que nos faz amar cura.”, conclui.