Por Ivanaldo Mendonça – Nossos tempos apresentam inúmeros desafios que, agravados pelo advento da pandemia do novo corona vírus, pedem respostas urgentes. As demandas globais vão da crise econômica aos problemas ambientais; no campo das demandas pessoais as estatísticas apresentam o aumento crescente de pessoas acometidas por distúrbios de natureza psicoemocional. A ansiedade, por exemplo, acomete cerca de 33% da população mundial e quase 10% da população brasileira, o que faz do Brasil o primeiro no ranking.

A Organização Pan-Americana de saúde (OPAS) estima que mais de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), antes da pandemia o Brasil apresentava o maior índice de depressão da América Latina, impactando cerca de 12 milhões de pessoas; com a pandemia estima-se que esse total tenha crescido cerca de 90%. O suicídio acomete cerca de 800 mil pessoas por ano, convertendo-se na segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.

A consequente fragmentação das relações humanas torna o volume de problemas ainda maior, revelando o fracasso dos modelos sócio-econômicos defendidos por diversos segmentos apregoadores de que quanto mais recurso financeiro, estabilidade econômica, oportunidade de estudo e acesso a modernos recursos tecnológicos alguém possa ter mais feliz será. A conversão do mundo em aldeia global que favoreceu progressos de inúmeras naturezas continua a afastar pessoas que estão fisicamente próximas.

Este cenário, para muitos, desolador, exige e favorece reflexão madura que desencadeie processos de intervenção verdadeiramente eficientes e eficazes. Algo a ser superado é o aprisionamento das relações humanas, em seus diversos âmbitos, ao ato de cuidar compreendido única e exclusivamente, como sinônimo de manutenção. Nessa direção muitos cuidaram, mas não zelaram. Zelar é cuidar com amor, o que exige favorecer formação de consciências permeadas por liberdade e responsabilidade.

A realidade atesta a necessidade de imprimir cuidado amoroso nas relações. Diane de problemas sérios com os filhos muitos pais justificam-se: “Nunca lhe deixei faltar nada”. A notícia de que alguém sucumbiu á depressão desperta a análise em forma de condenação: “Ele tem tudo o que precisa”. Nossas respostas testificam o quanto estamos distantes e somos insensíveis a realidade que fere, machuca e mata. O fato de, por fora parecermos bem cuidados, não significa que estejamos bem e verdadeiramente realizados.

É tempo de zelar! É tempo de cuidar com amor!

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
ivanpsicol@hotmail.com