Por Ivanaldo Mendonça — É cada vez maior o volume de apelos de caráter religioso que chegam até nós; das mais diversas formas, sobretudo, através das mídias sociais, eles buscam despertar a atenção. Visando seduzir e angariar adeptos se valem de modernas técnicas, oferecem os mais variados produtos e, na mesma direção dos movimentos globais, alimentam o imediatismo, o individualismo e o egocentrismo. Analistas e estudiosos denominam este fenômeno como mercantilização da fé.

O fenômeno antes criticado pelas ditas religiões e/ou igrejas tradicionais, no sentido de serem as mais antigas, como um furacão, invade todas as denominações, exigindo mudanças e provocando repentinas alterações, tanto na condução das ações por parte de seus dirigentes, quanto na postura e relação dos fiéis e adeptos. Merece de nossa parte um olhar particular aos impactos deste fenômeno sobre o cristianismo que, se não reagir a tempo, será extinto.

Ilumina nossa reflexão a passagem bíblica do Evangelho Segundo Mateus na qual Jesus, ao enviar seus discípulos em missão faz algumas recomendações (Mt 6,7-13): que não levassem nada pelo caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura; que andassem de sandálias e não levassem duas túnicas; numa cidade, quando não fossem acolhidos e ouvidos, deveriam, ao sair, sacudir a poeira dos sapatos como testemunho contra eles. Assim, eles partiram pregando a conversão, expulsando demônios e curando numerosos doentes.

Deus chama, orienta, capacita, envia e sustenta na missão. Na contramão dos referenciais de seu tempo histórico Jesus anuncia o Reino de Deus ao qual se adere buscando o dom da liberdade integral, sem a qual não é possível segui-Lo fielmente. O dom da liberdade, que abrange o ser humano em sua totalidade, considerando as naturezas que o constituem (material, vital, animal e espiritual), deve ser compreendido em duas vertentes:

  1. A liberdade interior que consiste em ter o coração verdadeiro e transparente, desapegado de traumas, mágoas, medos e tudo mais que possa impedir o homem de crescer e amadurecer plenamente.
  2. A liberdade exterior, que se refere ao desapego de pessoas, lugares e coisas, cujo peso nos impede de seguir e servir á causa do Evangelho.

Em nossos tempos, boa parte dos apelos religiosos de natureza cristã, incorrem não apenas num grave erro, como se este pudesse ser redimido, mas, no pior dos erros: revestir a fé cristã daquilo que ela nunca foi ou quis ser, simples objeto de consumo, sujeita a vontades e gostos individuais ou grupais. Nesse sentido, no que depende dos homens, estão a assassinar a fé cristã. No entanto, como a obra é de Deus, os que insistem na lucidez seguem adiante, livres e fiéis em Cristo.

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
ivanpsicol@hotmail.com