Por Ivanaldo Mendonça — O caminho percorrido pelos cristãos católicos ao longo do tempo pascal, período que se segue por cinquenta dias após a Páscoa, oportuniza a cada um e a toda a comunidade de fé aprofundar sua relação com o Ressuscitado. Sobretudo através da liturgia dominical é possível rezar, refletir e celebrar a presença do Cristo Vivo agindo em cada batizado, nas famílias cristãs, na Igreja e no mundo.

Experimentar esta realidade e verdade de fé depende, essencialmente, de o quanto cada pessoa abre-se á ação da graça de Deus, dispondo-se a seguir, com fidelidade, os passos do Senhor.

Gradativamente, a cada semana, o tempo pascal insere-nos no evento central da fé cristã (paixão-morte-ressurreição de Jesus). A pedagogia da fé considera como ponto de partida a realidade marcada por suas belezas, limites e misérias, objetivando despertar o homem e a comunidade de fé a que, deixando-se iluminar pelo Cristo Vivo, potencialize seus dons, tome consciência dos limites intransponíveis á condição humana, ultrapasse os limites superáveis e permita á graça de Deus transpassar suas misérias com amor e misericórdia, favorecendo as curas necessárias.

Prezando pela adesão consciente, livre e responsável Cristo desafia-nos, constantemente, a amar sem medidas, condição irrenunciável á que nos tornemos verdadeiramente humanos e, assim, alcancemos esferas mais elevadas: Deus e as realidades espirituais.

Santa Teresa de Jesus e da Sagrada Face resume esta realidade: “Quanto mais humanos somos mais divinos nos tornamos”. Rompe-se, assim, toda e qualquer tentativa e tentação de considerar antagônicas as realidade humana e a realidade divina compreendendo-as como, mais que simplesmente complementares, como dimensões do único e mesmo ser.

O Ressuscitado apresenta-nos o dom da comunhão como condição a que nos tornemos mais humanos e, consequentemente, mias divinos, naquilo que nos é possível. O Evangelho serve-se da relação entre a videira e os ramos para traduzir o grau de intimidade que deve haver entre cada discípulo e o Mestre: “Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podeis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos” ( Jo 154-6).

Comunhão é sinônimo de intimidade, marcada pela atitude amorosa e corajosa de quem se doa e acolhe o outro inteiramente.

O princípio da comunhão exige relações profundas e permanentes que vençam o supérfluo e passageiro (Jo 15,9). Só atingimos este nível de maturidade humano-espiritual quando entregamo-nos a Cristo e O acolhemos verdadeira e inteiramente; na comunhão eucarística, recebemos o Cristo ‘pão vivo descido dos céus’ e a Ele nos doamos.

Sob a graça do Cristo Vivo contemplamos nossa humanidade buscando o equilíbrio necessário, percebendo-nos e amando-nos por inteiro. Só assim é possível viver a comunhão para fora de nós em seus mais diversos âmbitos e níveis, do matrimônio á comunhão eclesial. Só assim produziremos muitos e bons frutos.

A Comunhão é dom pascal!

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia