Por Ivanaldo Mendonça — A partir da quarta-feira de cinzas a Igreja vive a quaresma. No contexto do itinerário espiritual dos católicos, compartilhado com todos os homens e mulheres de boa vontade, este período consiste na preparação para a celebração da Páscoa, evento central da fé cristã, que faz memória (relembra, atualiza e eterniza) do mistério da salvação da humanidade, alcançada por Jesus, em Sua paixão-morte-ressurreição.

Este caminho de preparação é marcado, pela prática dos exercícios quaresmais. Oração, jejum e esmola manifestam o desejo e o comprometimento do homem de fé por aproximar-se, cada vez mais, de forma consciente, livre e responsável, do coração de Deus. A oração abre portas a uma relação madura pautada pela fidelidade; o jejum educa para o autocontrole, para o equilíbrio; a caridade é fruto concreto da relação transparente com o Senhor e da autoconsciência, que chega, amorosamente, até o próximo, seja ele quem for, gerando fraternidade.

Evidencia-se nesta proposta de cunho espiritual o valor, necessidade e importância do ‘sair de si’, ultrapassando desejos e vontades, superando a paixão pelo poder e a vivência da religião de maneira indiferente e intimista. Essas três grandes tentações (desejo, poder e alienação), assim como perseguiram a Jesus (Lucas 4,1-13), perseguiram, perseguem e perseguirão todos e cada um daqueles que assumiram segui-Lo fielmente. A quaresma ensina-nos: por Cristo, com Cristo e em Cristo vencemos e superamos as tentações.

Este itinerário espiritual é fortemente marcado pela arte do encontro. Encontrar e deixar-se encontrar são movimentos fundamentais. O Papa Francisco recorre, insistentemente, sobre a necessidade irrenunciável de promover a cultura do encontro, sem a qual nada acontece bem e ninguém é verdadeiramente feliz. Os encontros de cada dia, pequenos ou grandes, duradouros ou breves, impactam interna e externamente em nós e, no mundo, através de nós.

Nossa existência é profundamente marcada pelo encontro. O encontro com Deus, o encontro consigo mesmo, o encontro com os irmãos, o encontro com a criação. A dinâmica do ‘ir’ e do ‘acolher’, vivida sadiamente, favorece a construção de relações maduras e equilibradas, pautadas pelo amor e respeito. Ao longo deste tempo, aprendamos com Jesus a promover encontros que transformam e salvam. Abençoada quaresma!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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