Por Ivanaldo Mendonça — “Servos ou senhores?” é a pergunta implícita na passagem do Evangelho (Marcos 10,35-45) cujo relato apresenta dois discípulos de Jesus pedindo-Lhe que, em Sua glória, conceda-lhes lugares especiais. Jesus acolhe o pedido e responde evidenciando a ignorância dos discípulos: “Vós não sabeis o que pedis”; esclarecendo que os desígnios de Deus não estão sujeitos á vontade humana: “Não depende de mim conceder o lugar á minha direita ou á minha esquerda.”; ensinando o caminho a seguir: “(…) Quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos.”

Os referenciais teológicos do Evangelho Segundo Marcos têm como pano de fundo a íntima relação de Jesus, nominado no primeiro versículo do livro como ‘Filho de Deus’ (Mc 1,1) com a missão de salvar a humanidade por Sua paixão e morte de cruz. As últimas palavras do Evangelho confirmam as palavras iniciais colocando na boca de um oficial do exército presente na crucifixão de Jesus a constatação: “De fato, este homem era mesmo filho de Deus” (Mc 15,39).

Os versículos anteriores ao pedido do pelos filhos de Zebedeu narram que Jesus caminha para Jerusalém, lugar do desfecho de sua missão; no caminho, Ele alerta os discípulos acerca do que lhe acontecerá (Mc 10,32-34). Aos olhos humanos Jerusalém é o lugar da queda, vergonha e humilhação; aos olhos da fé, é lugar da vitoria de Deus da qual participam os que, verdadeiramente, aceitam Jesus como seu Senhor. O caminho percorrido pelo Mestre é, também, o caminho a ser trilhado por cada discípulo, individualmente, e pela comunidade dos discípulos, a Igreja, como um todo.

Diante de nós a oportunidade de rezar, refletir, partilhar e celebrar as verdades de fé contidas nesta Palavra. Rezar abrindo-nos á ação Espírito Santo, que conduz os discípulos de Jesus; refletir acerca da qualidade do seguimento, tanto individual quanto como Igreja, cuja missão é prolongar a ação salvadora de Cristo ao longo dos tempos; partilhar, favorecendo e fortalecendo o exercício da comunhão, tendo em vista o exercício fiel da missão, reorientando os passos; celebrar tantos testemunhos que atravessam os tempos fazendo engrossar as fileiras dos verdadeiros discípulos de Jesus.

Qual mentalidade prevalece aos que estão á frente da Igreja, membros da hierarquia e leigos engajados? A missão é assumida, verdadeiramente, como serviço a Cristo ou como servir-se de Cristo em prol de benefícios pessoais e sectários? Que a causa do Evangelho tem sofrido sob o império do clericalismo, tanto por parte dos clérigos quanto por parte dos leigos é inegável. A resposta esta a caninho: corajosamente, Papa Francisco convocou a XVI Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos inspirada pelo tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
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