Por Ivanaldo Mendonça — Embora desde o chão maravilhe-nos a grandeza e beleza dos montes e montanhas, a vida desafia-nos a escalar, subir a montanha da existência que, muito mais que chegar ao topo de um amontoado de pedras, significa aceitar o desafio constante do amadurecimento. A decisão por subir a montanha resulta da insatisfação com aquilo que nos rodeia: mesmice, rótulos, status, imediatismo, superficialidade…, que percebemos, com o tempo, nada acrescentar, em felicidade, ao nosso ser. É preciso subir a montanha.

Para as chamadas ‘grandes religiões’, os lugares altos são espaços privilegiados onde o homem encontra-se consigo e com o Divino que existe nele e para além dele. Os emblemáticos personagens bíblicos sobem à montanha: na montanha Moisés recebe os mandamentos; no monte Carmelo o profeta Elias duela com os profetas de Baal.

Os momentos decisivos da vida de Jesus acontecem na montanha: reza, fala com o Pai, escolhe os apóstolos, profere as Bem-aventuranças; no Monte Calvário entrega sua vida; do alto, ressuscitado, manda anunciar o Evangelho. Os sábios sempre recorrem à montanha.

Da montanha é outra a visão sobre a existência. De lá, compreende-se que muitos projetos nunca dariam certo e, se dessem não nos fariam felizes; de lá se percebe que, por tantas vezes, estamos desconectados de nós, das pessoas e das melhores decisões; de lá se entende que muitas quedas, dores e sofrimentos revelam-se fonte de bênçãos, ao vislumbrarmos o que está adiante, além dos olhos e da compreensão; de lá se tem a clara percepção e visão de que o sol brilha, aquece e ilumina acima de tudo, e que as noites, belas ou traiçoeiras, são passageiras, não existem por si só. Na montanha não há o que e nem do que esconder-se. Estamos seguros, seguros de nós.

Para subir a montanha leva-se o básico, o suficiente. Ao longo do caminho, percebe-se que muitas coisas são desnecessárias e, embora, inicialmente seja doloroso, é preciso deixá-las; subir exige esforço e, para alcançar a meta, temos que ser e estar leves.

A montanha não necessariamente está acima. É aquele espaço físico, mental e espiritual que nos coloca em profunda sintonia conosco mesmos, com nossa essência. A capacidade e condições para subir não estão relacionadas à idade, pois, com experiência e sabedoria, não obstante o peso dos anos, a subida torna-se mais prazerosa, necessária, ágil e rápida.

E quando o corpo não mais corresponder à vontade, pernas e braços não obedecerem à mente e órgãos vitais falirem? Quem, ao longo da vida, aceitou o desafio e aprendeu, subirá sem sair do lugar. Ela, a montanha, se inclinará e, acolhendo-o em seus braços, fazendo eco à voz do seu Criador e Senhor, dirá: “Vem comigo! Agora você é montanha”. Ousemos subir a montanha!

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
ivanpsicol@hotmail.com