O bispo diocesano de Barretos Dom Milton Kenan Jr., em sua Circular de Maio distribuída hoje (11) às paróquias, traz a reflexão aos fiéis católicos acerca da necessidade do acompanhamento ‘mais positivo’ das famílias e jovens para a preparação ao matrimônio, contrapondo à uma ‘decadência cultural’, ‘cultura do provisório’, onde relacionamento ‘gera medo’, e à uma ‘obsessão pelo tempo livre’.

Dom Milton dá continuidade às suas reflexões sobre a Exortação Apostólica Pós-sinodal “Amoris Laetitia” (A Alegria do Amor), detendo-se, em alguns parágrafos, onde o Papa fala “da necessidade de dar ao acompanhamento das famílias e dos jovens que se preparam para o matrimônio, um enfoque mais positivo”.

A MENSAGEM DIOCESANA

“Vivemos um tempo em que vemos uma “decadência cultural” que não valoriza o amor e a doação. Um tempo da “cultura do provisório”, ou seja, a rapidez com que as pessoas passam de uma relação afetiva para outra. Algo como se dá nas redes sociais, onde conectamos ou desconectamos conforme nossos interesses e gostos.

“É uma época onde o compromisso permanente gera medo, onde há uma obsessão pelo tempo livre, quando as relações se medem pelo custo e benefício; onde com facilidade transferimos para as relações pessoais a relação que mantemos com os objetos e o meio ambiente, onde tudo é descartável.

“Em tempo de pandemia, como diz Francisco, ficam mais visíveis ainda as nossas fraquezas, os nossos interesses; e particularmente mais fragilizadas nossas famílias, que sofrem não só com a rapidez do vírus que atinge seus membros, mas também com a morte solitária daqueles que amam, e a impossibilidade de se despedirem deles.

“É preciso também considerar que, em razão da pandemia, há um aumento expressivo de famílias abaixo da linha de pobreza, sem condições de manterem seus compromissos, obrigadas a deixarem suas casas por não poderem arcar com o aluguel e se alojarem nas áreas mais miseráveis de nossas cidades.

“Diante deste horizonte, o Papa nos convida a imitar o Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37), a nos tornarmos uma Igreja que cuida do que é frágil.

“Nestes momentos em que tudo parece diluir-se e perder consistência, faz-nos bem invocar a solidez, que deriva do fato de nos sabermos responsáveis pela fragilidade dos outros na procura dum destino comum. A solidariedade manifesta-se concretamente no serviço, que pode assumir formas muito variadas de cuidar dos outros. O serviço é, em grande parte, cuidar da fragilidade. Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo” (Fratelli Tutti n. 115).

Num momento que nos desafia a todos, Francisco diz: “Precisamos de encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo, para convidá-los a aceitar, com entusiasmo e coragem, o desafio do matrimônio” (Amoris Laetitia, 40).

“Quando Francisco refere-se a uma “pastoral positiva”, ele fala da importância de valorizar os pequenos gestos, a história de cada família ou de cada casal que se prepara para o matrimônio, procurando descobrir nela a presença santificadora do Espírito Santo, a ação de Deus que age na vida de todos os seus filhos e filhas.

“Para que a nossa pastoral com as famílias seja positiva, é preciso que ela seja acolhedora, capaz de acompanhar, discernir e integrar; passarmos de uma postura de ataque ao mundo, para oferecer uma mensagem que seja um reflexo claro da pregação e das atitudes de Jesus, o qual, ao mesmo tempo que propunha um ideal exigente, não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adúltera.

“Por isso, será importante que ofereçamos espaços de apoio e aconselhamento sobre questões relacionadas com o crescimento do amor, a superação dos conflitos e a educação dos filhos; através de casais dispostos a ouvir, acompanhar e ajudar aqueles casais e famílias que se encontram numa situação mais vulnerável.

“Ao mesmo tempo devemos unir à solidariedade o compromisso de apresentar aos jovens, a começar dos próprios lares cristãos, a beleza do amor matrimonial. Com certeza é o testemunho dos pais que levarão os filhos a compreenderem a beleza do matrimônio, que não aprisiona, mas liberta, que às vezes é exigente mas, por outro lado, dá solidez à vida de uma família.

“Num mundo com tantos desafios, encontramos também possibilidades, oportunidade de nos reinventar para tornar a proposta de amor do Evangelho mais atraente e cativante, onde o matrimônio surge mais como um caminho dinâmico de crescimento e realização do que como um fardo a carregar a vida inteira.

“Que a Sagrada Família de Nazaré continue a nos inspirar e ajudar a tornar nossos lares “lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas igrejas domésticas”.

Dom Milton Kenan Júnior
Bispo de Barretos