Por Pe. Ronaldo José Miguel —Tomé, chamado também Dídimo (que significa “gêmeo”), aparece nos Evangelhos como uma figura sincera e intensa.
No episódio da morte de Lázaro, enquanto os outros discípulos hesitavam em voltar à Judeia por medo dos judeus, Tomé é quem diz: “Vamos também nós, para morrermos com ele!” (Jo 11,16). Suas palavras revelam coragem e lealdade, mesmo quando o caminho parece levar à morte.
Ao mesmo tempo, é alguém que não teme fazer perguntas. Na Última Ceia, quando Jesus fala do caminho que leva ao Pai, é Tomé quem, sem receio, pergunta: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5).
Essa pergunta leva Jesus a uma das afirmações mais conhecidas de todo o Evangelho: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
O episódio mais conhecido de Tomé se dá após a Ressurreição. Quando Jesus aparece aos discípulos pela primeira vez, Tomé não está com eles. Ao ouvir o relato dos outros, responde: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não colocar o dedo nas marcas dos pregos e a mão no seu lado, não acreditarei” (Jo 20,25).
Essa afirmação, longe de ser apenas ceticismo, expressa o desejo profundo de uma experiência pessoal e real com o Ressuscitado.
Oito dias depois, Jesus aparece novamente, agora com Tomé presente. O Senhor não o repreende; ao contrário, convida-o amorosamente: “Põe aqui o teu dedo… não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20,27).
Diante do Cristo vivo, Tomé pronuncia uma das mais belas profissões de fé do Novo Testamento: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28).
Tomé nos ensina que a dúvida não é, necessariamente, ausência de fé. É parte da caminhada. Ele representa todos os que buscam, questionam, desejam ver com os próprios olhos.
Sua história nos encoraja a levar nossas dúvidas a Deus, com sinceridade, sem medo, confiando que Cristo se deixa encontrar por quem o busca de coração sincero.
O Ressuscitado não despreza os que têm dificuldade em crer; ao contrário, Ele se aproxima, mostra suas chagas e transforma a hesitação em certeza, a incredulidade em adoração.
São Tomé é o apóstolo da fé que toca, da fé que interroga, da fé que se deixa surpreender pelo Ressuscitado.
Seu exemplo é uma ponte entre o mundo antigo e o homem moderno, que também deseja ver, entender, experimentar.
Ao final, como Tomé, somos convidados a reconhecer no Cristo vivo nosso Senhor e nosso Deus.
- Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor do Seminário de Barretos. Escreve às quintas.