O Diário de Olímpia entrevistou o jornalista e advogado José Antônio Arantes sobre a conclusão do inquérito do delegado titular de Polícia Civil, Marcelo Pupo de Paula, acerca do incêndio criminoso na sede do semanário Folha da Região e Rádio Cidade FM, atingindo também a residência da família, em 17 de março de 2021.

Em seu relatório final, segundo Arantes, “o delegado tergiversa” apenas sobre os fatos apurados e que levaram à descoberta do ex-bombeiro civil Cláudio José de Azevedo Assis, “demonstrando não ter investigado praticamente nada além disso. Ou seja, parece não ter havido interesse em descobrir os prováveis outros envolvidos”.

“O delegado, sem esmiuçar detalhes, aponta inclusive que pediu as medidas (quebras de sigilo) que foram deferidas pela justiça, mas que foram apenas parcialmente cumpridas”, assinala o jornalista.

Embora na peça de Pupo de Paula aponte que o bombeiro foi visto junto com “negacionistas” em protesto defronte a prefeitura local e ter a informação de que estava ao lado de pessoa que atacava o jornalista incessantemente pela internet e que o ex-bombeiro tinha sido visto saindo do escritório deste no dia anterior, “não solicitou nenhuma imagem do local e nem o depoimento de pessoas”, destaca Arantes.

Os possíveis suspeitos também não foram ouvidos, segundo o relatório do delegado. Em razão disso, o jornalista conclui que “aconteceu o que era esperado e o que sempre ocorre em casos como este. Deixa-se o tempo passar para que o fato fique esquecido e, ao depois, o criminoso, quando é protegido por pessoas que tem influência, acaba recebendo a pena menor possível”.

“Eu não tenho dúvidas de que outras pessoas participaram deste verdadeiro atentado terrorista. E nós fomos atrás, alertamos o delegado. Passamos todas as informações e suspeitas que tínhamos. Inclusive, o delegado quando foi a primeira vez na casa do Cláudio, conversou comigo e com minha filha e disse que não poderia ser o Cláudio, pois sua moto tinha a lanterna quadrada e a do sujeito que aparecia nos vídeos era redonda”, contou o jornalista.

E complementou: “Pelas ligações dos possíveis envolvidos, não descarto até que políticos importantes tenham ajudado a abafar o caso para que ficasse apenas concentrado no criminoso confesso. Não descarto também que tenha sido feito um acordo para que o ex-bombeiro se entregasse espontaneamente e não fosse preso”.

Outra ‘aberração jurídica’ no decorrer do processo, segundo Arantes, que também é advogado, é que “o criminoso descumpriu medidas protetivas que o juiz desconsiderou, mas nem que tivesse entendido ao contrário poderiam ter sido cumpridas, já que a Vara Criminal local não havia intimado o dito cujo sobre as medidas”.

“É inacreditável”, exclama o advogado e jornalista. E, complementa: “É estarrecedor, desanimador e revoltante entender que, os poderosos têm o poder de proteger um grupo de pessoas que tentou tirar a vida de dois anciões e de uma criança de 9 anos e que, ao final, ninguém vai pagar por isso, pois o ex-bombeiro, com certeza, não ficará um dia sequer na cadeia. E, pensar que se tivesse sido preso nos primeiros dias teria confessado quem foram os envolvidos. Mas, está claro, o Estado não tem interesse de punir os protegidos, apenas os ladrões de galinha”.

O jornalista e advogado arremata: “A única esperança agora está voltada para o promotor público local que poderá até pedir novas investigações. Mas quase 10 meses depois, com o “embromation” até agora da polícia, vai ficar muito mais difícil”.