Nilton Martinez ‘solta o verbo’: “É hora da cidade saber quem é quem. Ninguém chuta cachorro morto”

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O médico e diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia, Nilton Roberto Martinez, fez duras críticas à classe médica e um desabafo quase emocionado durante a cerimônia de doação de R$ 150 mil para a instituição através da Tereos, na tarde de ontem.

O Diário transmitiu ao vivo, com exclusividade, o evento e, também o desabafo de Nilton e a réplica-consolo do prefeito Fernando Cunha.

A íntegra:

“Bom tarde a todos, é com grande satisfação e agradecimento ao Jacyr (diretor da Tereos) por esta verba. Jacyr, você embora saiba, mas não tem a ideia de como é difícil manter uma Santa Casa.

“Eu procuro ajudar a todos os provedores que por aqui passam, e a Luzia (atual provedora) é uma heroína, reconheço, porque as dificuldades e as incompreensões são inúmeras, não se faz um balanço daquilo que é positivo, só se fala do que é negativo, e se você for fazer um balanço, tem 90 a 95% de acertos, e 3 a 4% ou 5% de problemas que são inerentes em qualquer instituição do mundo.

“Mesmo nos EUA, hoje, se criou uma entidade chamada Segurança do Paciente, porque lá, Primeiro Mundo, 20% das mortes e complicações ocorrem dentro de um hospital. Aqui, felizmente, isso não acontece. E nós estamos melhorando, e a população não tem conhecimento disso. O Centro Cirúrgico (da Santa Casa), por exemplo, desde 1975, 75…, não tinha reformas necessárias.

“Agora, graças a vocês (Tereos), ao Fernando (Cunha, prefeito), ao Fábio (seu filho, médico e vice-prefeito), estamos modernizando isso. Essa ala (maternidade) ficou uma maravilha. Muito bom. Mas, eu preciso também ser crítico.

“Estou vendo aqui (na cerimônia), três médicos… tem mais alguém?. Não. Somos em 65 médicos no Corpo Clínico da Santa Casa. Sessenta e cinco. Eu vejo que, em todas as situações difíceis, em 99% por cento delas, somente estão eu e o Fábio, e quem toca a Santa Casa, não são esses 65, e sim 108 abnegados, e às vezes recebemos críticas. Está aqui a prova. Recebendo R$ 150 mil para melhorar para a população, para melhorar o nosso trabalho, e no entanto apenas três médicos presentes. Isto me deixa entristecido. Há 45 anos que sou diretor técnico e clínico desta instituição e sem receber nenhum centavo. Já fui até processado por ter a direção clínica, eu quero que a Luzia (provedora) confirme a luta que estamos fazendo e quanto eu sou companheiro da Luzia. Isto é um descaso para a nossa instituição.

“Eu quero fazer aqui também, me desculpe, uma apologia ao meu filho Fábio. Esse menino eu o ensinei a ser homem. A trabalhar. A ser leal. Não trocar de banda. E não falar mal da vida dos outros. Ele, sim, aprendeu a trabalhar e a ser decente. E ser leal a quem o acolhe. Por isso, Fábio, você é o filho que eu pedi a Deus e Ele me deu muito mais do que eu merecia. Eu quero agradecer a você por ter seguido esses passos, por ser um médico que se preocupa com a população. Infelizmente, na nossa profissão, acontece isso. Como está acontecendo agora.

“Quero aqui parabenizar o Marcos (Pagliuco), secretário de Saúde, que tem feito um trabalho excepcional. Marcos, as críticas vem. Não tem jeito. Mas, se fizermos um balanço daquilo que é positivo em sua gestão, e do que vai bem, você vai ver que 95% você tem acertado. Errar é humano e é inerente.

“E você, Hilário (Ruiz), transmita à Bete Sahão (deputada que viabilizou uma emenda para reforma na Maternidade) o nosso abraço, o nosso apreço, somos de ideologias distintas, mas para a população não existe ideologia, para a população existe o seu bem estar e vocês vão ver que aqui está uma maravilha.

“Eu quero dizer isso a vocês diretamente: volto a insistir, estou vendo aqui só três médicos, e é essa Jacyr a nossa luta. Eu, meu filho, estou ficando velho, aliás, estou velho. Eu conversei com a Luzia e devo abandonar a direção clínica e cuidar mais de minha vida. Aquele dia em que você chorou em nossa casa e disse que você era jovem, ia jogar bola, e cadê o meu pai, enquanto os outros pais lá estavam. “Eu ia em uma festinha, cadê o meu pai?” Os pais de todos os outros estavam lá. Mas, o seu pai estava salvando vidas aqui, deixando sábado e domingo a família. Quantas vidas? Trinta e seis mil cirurgias nesses 46 anos. É isso que eu te ensinei: salvar vidas. A ser leal. A ser decente. E você correspondeu a isso. E se fosse preciso criticar o meu filho, eu o faria aqui. Não deixaria por menos.

“Mas, volto a insistir: Hilário, Marcos, muito obrigado por essa luta que vocês tem feito. Vocês da Tereos, Jacyr, Perosa… Jacyr é uma figura fantástica, é um olimpiense, casou-se aqui, gosta de Olímpia, como todos nós, que não nascemos aqui, mas somos mais olimpienses do que muitos olimpienses que batem no peito e falam que amam essa cidade. Não amam, se aproveitam dela.

“E quero falar que, às vezes, falam que eu abuso do hospital, às vezes até falaram que eu roubo o hospital, já ouvi essa conversa. Como pode alguém tirar proveito de um hospital como a Santa Casa que não tem um centavo no caixa? Como pode, Luzia? Mas, essas críticas são assim: ninguém chuta cachorro morto. Isso é próprio do ser humano: a inveja. O indivíduo não consegue chegar aonde nós estamos. No patamar de lealdade, de fidelidade, de compreensão do ser humano que nós estamos, Jacyr. E nós vamos continuar.

“O meu sonho dourado era de que Olímpia tivesse um hospital de primeira grandeza, um hospital regional, um AME (Ambulatório Médico Especializado), infelizmente não houve compreensão, não foi possível e não será possível. A não ser que o Fernando (prefeito) consiga isso, mas tenho a impressão de que será a duras penas. Mas, tudo bem.

“Muito obrigado a todos vocês. Obrigado a imprensa. Jacyr, você sempre mora no meu coração, e volto a dizer a vocês: todo o dia 5 de novembro, eu recebo um WhatsApp: “Nilton, parabéns, Deus te acompanhe”. É o Jacyr que faz isso pelas quatro ou cinco horas da manhã. Muito obrigado a todos vocês, muito obrigado.

“Desculpe o desabafo, mas era a hora de se fazer esse desabafo. Olímpia precisa saber quem é quem. Chega de mentiras. Chega de falsidade. Olímpia precisa ter o pé no chão, como o Fernando faz na Prefeitura atualmente. Muito obrigado”.

CUNHA: “CIDADE MOVIDA POR IMPULSOS”

Na sequência, o prefeito Fernando Cunha abriu o discurso elogiando Nilton Martinez, chamando-o de Benito (Benatti, fundador do Thermas dos Laranjais) da Santa Casa, e justificou a situação eleitoral passada:

“Ele falou verdades absolutas. Mas, o julgamento popular é uma coisa incontrolável, movido a paixões, direcionamentos, Nilton… Eu acho que a cidade foi movida a impulsos. Foi um movimento nacional que levou à uma renovação enorme, e isso refletiu em todos os setores. Aqui em Olímpia mesmo, o (Jair) Bolsonaro (presidente) teve 76% dos votos. Fruto de um instrumento, uma manifestação popular pela reformulação, renovação, e acho que dentro desse bojo, as outras eleições foram a reboque na cabeça do eleitor, por isso, talvez, tenha tido esse resultado”.