A celebração do Ano Santo da Misericórdia vivenciado pela Igreja do mundo inteiro propõe e possibilita que a misericórdia seja explorada sobre os seus mais diversos aspectos.

A família apresenta-se como uma realidade na qual a vivência deste valor e atitude genuinamente cristã, adquire sentido especial, uma vez que a família está fundada sobre o amor (máximo desejo do bem por alguém ou por alguma coisa) e que misericórdia consiste em mover-se em direção ao outro, abraçar sua miséria com o coração, liquidando-a com amor e compaixão.

A vivência da misericórdia é evidenciada nas Sagradas Escrituras pelo apóstolo Paulo na passagem denominada Hino ao Amor (1 Coríntios 13,4-7), que caracteriza o que e como o amor se manifesta na vida das pessoas, especialmente na vida do casal.

O amor é paciente: Ser paciente é ser lento para a ira, não se deixar-se dominar pelos impulsos interiores que levam a agredir o outro. A família não é um campo de batalhas;

O amor é benfazejo: A paciência converte-se em atitude concreta de amor que beneficia e promove o outro. O amor não é apenas um sentimento, mas uma atitude cujo prazer maior consiste em doar e servir;

O amor não é invejoso: A inveja consiste no desgosto pelo bem do outro. Sentimos inveja quando estamos concentrados em nós e em nosso bem-estar ignorando o outro, suas necessidades e alegrias;

O amor não é arrogante nem orgulhoso: A arrogância é o desejo de mostrar-se superior para impressionar o outro e, o orgulho, em considerar-se maior do que se é. O cultivo da humildade é essencial na vida familiar;

O amor é amável: A amabilidade é a capacidade de tornar o amor afável, leve, delicado, carinhoso. O amor não faz sofrer, não é duro, não é rígido. O amor afável gera vínculos, cultiva laços, cria redes e integra;

O amor é desprendido: A capacidade de amar a si próprio de forma equilibrada e madura faz com que o amor ao outro seja vivido na liberdade e desprendimento, na doação que se alimenta, se faz e refaz a cada dia;

O amor não gera violência interior: Tantas vezes as realidades exteriores despertam em nos a reação da indignação que se converte em inquietação e agressividade, provocando danos a vivência familiar;

O amor perdoa: O perdão funda-se na atitude positiva e não no ressentimento. O cultivo da compreensão, da tolerância e reconciliação possibilita que o amor cresça e amadureça constantemente;

O amor alegra-se com os outros: Rejubilar-se com as alegrias e conquistas do outro; valorizar e evidenciar aquilo que o outro tem e faz de melhor torna a vida em família mais leve e prazerosa;

O amor tudo desculpa: Desculpar é ser capaz de não confundir a outra pessoa com os defeitos e faltas que ela comete. O amor humano é real, limitado e terreno; saber conviver com a imperfeição torna-ser uma necessidade;

O amor tudo confia: A confiança torna possível uma relação na liberdade renunciando a tentação de controlar, possuir e dominar. A liberdade possibilita autonomia, abertura ao mundo e a vivência de novas experiências positivas;

O amor tudo espera: Saber esperar consiste em não desesperar-se quanto ao futuro; crer e colaborar para que o outro pode mudar e que nem tudo acontece como se deseja;

O amor tudo suporta: Suporta com espírito positivo todas as controvérsias sabendo manter-se firme em meio a ambientes hostis. O amor não desiste mesmo nas contrariedades;

O hino ao amor ensina-nos, concretamente a traduzir amor em misericórdia. Que, como ensina a bonita canção Oração pela Família: “Que a família comece e termine sabendo onde vai”.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia