Por Ivanaldo Mendonça — Os noticiários da semana deram visibilidade á tragédia que dizimou a vida de nove pessoas em Paraisópolis, favela da capital paulista, com cerca de 100.000 habitantes. Na madrugada de primeiro de dezembro, cerca de 5000 mil pessoas participavam de um baile funk, a céu aberto. Segundo a polícia, em perseguição a bandidos que adentraram o espaço do baile, a multidão, descontrolada, provocou ferimentos e mortes; de acordo com os populares, a polícia encurralou e agrediu a todos, provocando as mortes. As vitimas fatais tinham idade entre 14 e 23 anos. 

O ocorrido divide opiniões. Quem considera baile funk atividade promovida pelo tráfico de drogas incrimina todos os participantes como únicos responsáveis pela tragédia; os que consideram os pancadões uma das poucas ou únicas opções de entretenimento para os jovens das favelas culpam a polícia.

Reduzir a questão, simplesmente a culpados e/ou inocentes em nada resulta. Como reivindicado por diversas instituições da sociedade civil, faz-se necessário, esclarecer os fatos e punir os responsáveis. No entanto, este movimento ainda não é suficiente para resolver a questão. Brevemente seremos surpreendidos por tragédias tão iguais ou piores. Faz-se necessário refletir consciente, madura e responsavelmente acerca do nefasto sistema que origina, alimenta e promove atrocidades como esta e tantas outras com as quais temos, facilmente, nos acostumado. 

Sistema  é o conjunto de elementos interdependentes que formam um todo organizado; sistema social é o conjunto das instituições econômicas, morais, políticas a que os indivíduos se subordinam. Enquanto a integração saudável entre elementos do sistema gera equilíbrio, seu mau funcionamento pode provocar falência. O sistema perpetua seu poder devastador contrapondo, inclusive, elementos cujos esforços devem se complementar, no caso, polícia e população.

Enquanto pais, inconformados, sepultam os corpos de seus filhos, enquanto nos destruímos contra ou a favor destes ou daqueles, ele dorme tranqüilo. O sistema é invisível, espanca a todos, os de um lado e de outro, sem por as mãos. O sistema não pensa, não sente, não se comove, tampouco se move. O sistema impera através daqueles que falam de tudo, sobre todos e para todos, mas, não se comprometem com nada e ninguém. Para o sistema, tudo deve continuar como está. O sistema não perdoa.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

ivanpsicol@hotmail.com