A antiga área do Maranata, localizada na Cohab III, recebeu na tarde de quarta-feira (25), o Juiz Federal Dasser Lettiere Júnior, de São José do Rio Preto. O objetivo da visita foi conhecer a área e verificar o trabalho que está sendo executado pela equipe de arqueólogos. E, descobriu-se, além do cemitério indígena, área também habitável desses antigos habitantes de Olímpia.

A diligência foi acompanhada por representantes da Imobiliária Terra Nova, de São Paulo, Valdecir Zeffiro e João Paulo de Souza, o procurador federal Tito Lívio Quintela Canille, representando o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o morador da área Agnelo, além dos advogados Andrei Raia Ferranti, representante dos moradores, e Fabiano Garcia Trinca, pelas famílias que adquiriram terrenos, e do arqueólogo Robson Rodrigues, da Fundação Araporã, de Araraquara, responsável pelas coletas e escavações.

O juiz federal explicou que vieram até o local para ter uma impressão mais apurada a respeito dos fatos, porque o processo traz algumas fotos e notícias de 1993, então veio ver os trabalhos de arqueologia e eventuais invasões que poderiam atrapalhar.

O processo diz respeito ao Sítio Arqueológico do Patrimônio Histórico. “No ponto de vista arqueológico, foi boa minha visita para termos uma noção do que está sendo feito. O empreendedor que adquiriu a área já está cumprindo uma série de requisitos para o levantamento de qual é o sítio arqueológico, qual a dimensão desse sítio e até que ponto isso compromete o reserva do projeto. A visita foi muito produtiva, foi bom que as pessoas tomam conta da realidade e é sempre bom decidir em cima de fatos”, explicou o Juiz Federal.

De acordo com ele, agora o processo terá continuidade. “Existem pedidos de reserva de área, vai ser juntado agora uma análise preliminar desse estudo que está sendo feito porque toda intenção é isso, primeiramente proteger para que isso possa ser levantado, resguardado o espaço e liberar as outras áreas que possam ter outro tipo de destinação. O processo é de autoria do Ministério Público Federal. Fui muito bem recebido, uma bela diligência e eu gosto de estar assim, entrar em contato com as partes, todo mundo pode indicar as suas áreas de interesse, mostrar onde tem observações a serem feitas, isso só garante que o processo receba mais fatos, mais dados para que possam ter uma boa decisão”, acrescentou o juiz.

Segundo João Paulo de Souza, da Imobiliária Terra Nova, o encontro foi uma nova etapa. “A Terra Nova é uma a empresa que fez a aquisição da área por meio de leilão, e estamos dando sequência para preservar todo material encontrado neste local do sítio Maranata. Temos um arqueólogo e uma equipe na área, uma fundação que foi contratada e é toda regulamentada pelo Iphan e pelo Ministério Público Federal. Essa visita foi para fiscalizar o projeto de resgate, que acredito que dure mais nove meses, e posteriormente a área estará liberada para fazermos um empreendimento imobiliário e do outro lado, atrás da Igreja Nossa Senhora de Fátima, temos um projeto para fazer uma praça”, disse.

O representante da empresa ainda falou da importância do apoio da Administração Municipal. “A Prefeitura está dando todo apoio para nossa empresa, fomos muito bem recebidos pela administração do prefeito Fernando Cunha, que nos deu total apoio para regularizar a área e futuramente desenvolver o empreendimento, que vai beneficiar bastante a região. Queremos regularizar o Sítio Maranata, fazer um resgate do sítio arqueológico, fazer um trabalho social do sítio também em relação à comunidade e isso é muito importante”, afirmou João Paulo.

Durante a visita o arqueólogo Robson Rodrigues, explicou todo o trabalho desenvolvido na área do Sítio Arqueológico. “Esse é um sítio importante para o interior do Estado de São Paulo, que há mais de 20 anos já é conhecido e nesse momento estamos realizando as pesquisas arqueológicas para tentar entender um pouco mais a ocupação das populações indígenas nessa área. Nós estamos realizando as escavações de novas áreas desse sítio arqueológico dos anos 90, ele já sofreu uma intervenção por conta, inclusive, do empreendimento. Na época foi feita uma coleta de materiais arqueológicos, que hoje estão no Museu do município, mas nesse momento estamos realizando novas pesquisas arqueológicas para ampliar o horizonte de entendimento do que diz respeito a ocupação das populações indígena aqui no município, que de certa forma se traduz também na ocupação das populações indígenas de toda Bacia do Rio Grande”.

O arqueólogo também falou sobre os itens que estão sendo encontrados durante as escavações. “Esse sítio arqueológico é conhecido como Cemitério Maranata porque de fato nessa área encontramos enterramentos da população indígena que morava nessa região. Mas, o fato novo que já começamos a perceber é que essa área pela qual nós estamos pesquisando não serviu apenas para enterramento das populações, nós conseguimos identificar uma possível área de habitação, então, encontramos, além dos lugares onde essa população aqui morava, enterravam seus parentes, também conseguimos, com a intenção da pesquisa, delimitar a área de habitação. A princípio nós encontramos duas estruturas arqueológicas, uma associada à habitação das populações indígenas, uma grande área com um solo diferente do solo que nós encontramos, que nós chamamos de solo antropogênico. Esse solo apresenta uma série de características orgânicas que estão associados aos materiais que a população utilizava para suas construções, mas também continuamos encontrando os lugares de enterramento e, para nossa surpresa, nós estamos finalizando a escavação de, pelo menos, um sepultamento, além da escavação da área de habitação”.

“Essa etapa do projeto se encerra no final de julho. Na etapa de um mês de trabalho, além da escavação uma das perguntas que está posta para o nosso trabalho é saber qual é o limite da área do sítio arqueológico, então umas das nossas tarefas também é delimitar a área arqueológica para que possa continuar sendo preservada, mesmo com a vinda de um novo empreendimento”, finalizou o arqueólogo.