O ex-secretário estadual da Educação, e também da Cidade de São Paulo, ex-prefeito de Botucatu, advogado João Cury, esteve em Olímpia nesta quinta-feira (19), e como especialista em Educação, inclusive tendo participado em passado recente de ações junto a algumas escolas de Olímpia, os jornalistas Leonardo Concon e Julião Pitbull – Diário de Olímpia e Olímpia 24 Horas – aproveitaram a oportunidade de entrevistá-lo acerca do atual momento da Educação, seja em São Paulo, seja no País.

Ele se reuniu na sede da Associação Comercial e Industrial de Olímpia (ACIO), com educadores e convidados. Assista ao vídeo na íntegra, abaixo:

“Eu tenho um carinho muito grande por essa cidade que tive a oportunidade de vir quando fui presidente da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), depois como secretário de Estado da Educação, trouxemos investimentos do Governo do Estado em escolas, como a tradicional Anita Costa, como também Reis Neves e Capitão Narciso Bertolino, e uma das coisas legais que também criamos aqui foi a Creche-Escola no bairro Morada Verde, modelo que apresentamos no Estado e pelo Brasil afora, foi uma parceria importante com o prefeito Fernando Cunha”, disse Cury.

“A ESCOLA É MUITO CHATA”

Logo de cara, o ex-secretário diz que, atualmente, “a escola é muito chata, 70% dos alunos do ensino médio acham isso, se a gente fosse de fato um país sério teria que discutir isso mais profundamente, o porquê dos alunos do ensino médio não entenderem a escola atual como uma escola que faz sentido para a vida deles, e a gente tinha que mudar completamente esse sentimento”, e Cury questiona: “Como é que você vai para um lugar que você não tem vontade de estar lá?, como é que você vai estudar numa escola que você acha que ela não tem nenhum significado para sua vida? Eu sou de uma geração que o meu pai nos ensinou que nós temos que estudar, fazer uma faculdade, para depois pegar o diploma e tentar entrar no mercado de trabalho”.

João Cury garante que a geração atual não se preocupa em trabalhar como empregado e sim em ser empregador, ser dono do próprio negócio, ao contrário da formação mais antiga, dos pais, por exemplo. “Somos de uma geração que, às vezes, o segredo do sucesso profissional era ser empregado de alguém, não fomos estimulados a empreender”.

Daí, Cury entende que a primeira mudança a ser feita, em qualquer nível, e entender o desejo do aluno, fazer a escola ter um significado, que pode não ser o mesmo do desejo de seus pais. “O projeto educacional tem que começar, claro, pelo próprio aluno”, garante, e explica: “Temos que colocar o aluno no centro da decisões, a gente toma muita decisão pelas pessoas, nós impactamos a vida das pessoas, as pessoas não são sequer consultadas na Educação, não sou educador de formação, mas nos últimos seis anos escutei muito professor, educador, técnicos de várias áreas, por isso acredito que a educação é uma das chaves de transformação da sociedade”.

MUITO ALÉM DE DIPLOMA E CURRÍCULO

E, volta a bater na tecla da ‘escola chata’: “Se você conversar com o jovem de 16, 17, 18 anos, ele troca tudo isso, carreira, salário, estabilidade, diploma, por algo muito mais profundo, e isso se chama dar um significado, ele quer algo que lhe dê um significado, e isso tudo é mais profundo do que foi na minha geração, e isso lhe traz um sentimento de felicidade, não algo imposto, obrigatório, e temos de ir além das fórmulas, das receitas prontas, de cima para baixo, temos de ouvir o aluno, para ele ter prazer, motivação para ir à Escola”.

João Cury cita o exemplo da escola em tempo integral, da qual apoia porque, segundo ele, é sucesso em diversos países, “mas o aluno não foi ouvido, veio a fórmula pronta, e pegou todo mundo de surpresa, sem estar preparado, faltou diálogo. Os técnicos dizem que fazem para os alunos, pelos alunos, para deveriam fazer com os alunos, faz toda a diferença com e não para, algo que vai impactar a sua vida, e até da rotina de suas famílias, tem que ser dialogado, o aluno tem que participar da decisão”.

A DECISÃO TAMBÉM NA MÃO DO ALUNO

Quando foi prefeito de Botucatu, João Cury inovou ao dar uma pequena ajuda financeira para os grêmios estudantis, ele mesmo já participou de grêmios quando estudante: “De que adianta fazer concorrer, fazer campanha, e depois não ter verba para nada, com tantas ideias boas em favor da Escola?” Ele criou o Orçamento Participativo Jovem, ideia que levou quando secretário de Estado da Educação: na época, enviou R$ 5 mil para cerca de 5 mil escolas estaduais, inclusive as de Olímpia recebeu também. Foram cerca de R$ 25 milhões, mesmo sob críticas de que “os alunos iriam gastar em outras áreas, iriam beber, comer, torrar o dinheiro”. Muito pelo contrário, revela Cury: “Confiamos, enviamos o recurso, e muitas coisas boas foram feitas por eles, o estudante passa a ter outra percepção da Escola, ele passa a discuti-la com seriedade, porque ele faz parte da decisão e se responsabiliza pelas mudanças”.

“EDUCAÇÃO EM CASA? SOU CONTRA, AGORA”

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (18) o texto-base do projeto de lei que regulamenta a prática da educação domiciliar no Brasil, prevendo a obrigação do poder público de zelar pelo adequado desenvolvimento da aprendizagem do estudante. Ao ser questionado, João Cury revelou ser contrário: “Temos estudos sobre isso no Estado, não passa de 15 mil, 20 mil pessoas interessadas no tema, estão parando o Congresso Nacional para algo não prioritário, algo residual, secundário, essa não é a pauta essencial da Educação brasileira”.

“Em primeiro lugar, você ensinar um filho, educacionalmente, sob o ponto de vista cognitivo, não é fácil”, justifica João Cury, e acrescenta: “ter uma formação superior, tudo bem, mas não será completa em todas as áreas e necessidades, inclusive especiais como nos deparamos hoje, como autismo, hiperatividade, deficiências, resumindo, o Brasil não está preparado, os pais não estão preparados, a gente viu isso na pandemia, um amigo, crítico da Educação, confessou que não aguentava mais, 45 dias depois de estarem em casa, de ficar com dois filhos, todos nós tivemos, em algum momento, de sermos professores de nossos filhos, e a realidade foi que, na maioria das casas, não havia sequer uma internet de qualidade para todos”.

Ao falar da importância do professor, Cury faz o comparativo com o pai, a mãe, que ficou com os filhos em casa na pandemia: “Se é difícil cuidar de um, dois filhos, imagine de 30, 35 alunos em uma sala de aula, por 20, 22 anos, cada aluno exige uma demanda específica, e nas condições que sabemos não são as melhores, é mesmo um sacerdócio. A educação em casa não vai oferecer as mesmas condições, além do que, cinco, seis anos em escolas, oferece algo imprescindível em nossas vidas: a socialização, manter relações externas, sair da bolha, o contato com os colegas ajuda a formar a personalidade, o caráter, o conhecimento, quem é que não teve grandes amigos?, você adquire habilidades, a fazer trabalho em equipe, quando vai para a quadra esportiva, aprende a respeitar regras, em casa não terá nada disso”.

“CUIDAR DE QUEM CUIDA DOS ALUNOS”

Ao tomar conhecimento de que Cury é pré-candidato a deputado federal pelo MDB, a pergunta foi para as suas prioridades, programa de trabalho. “A primeira delas é a de cuidar de quem cuida desses alunos, valorizar o educador, não apenas em salários dignos e condizentes, e educador não é somente o professor, mas a merendeira, quem limpa a escola, enfim, temos de ter um olhar mais generoso, amplo, porque todos trabalham pelo mesmo objetivo”.

“A prioridade número dois é colocar o aluno no processo das decisões que as escolas tem que tomar, geralmente estão à margem, temos de fazer ele gostar de estar na Escola, dar sentido estar lá, e isso eu chamo de sentimento de felicidade, não ir forçado, porque o pai quer, porque a sociedade impôs, tem que ser algo que dê sentido, então temos de resgatar o alunato”, disse Cury.

Finalmente, a terceira prioridade, segundo ele, é a de investir mais em tecnologia, como faz o prefeito Fernando Cunha, de Olímpia, que adquiriu tablets e transformou o método de ensino em híbrido: “Mais de 80% dos alunos estão nas escolas públicas, por isso tem que investir na tecnologia, veio para ficar, você ‘dá um Google’ e tem uma monte de respostas nas mãos, na hora, temos de diminuir a distância que existe entre o aluno rico, ou classe média, do aluno pobre”.

“A gente precisa, como sociedade, sair do discurso e colocá-lo em prática, em tempos eleitorais todos falam a mesma coisa, como um mantra, um clichê, saúde, educação, segurança, mas a prática é diferente”, analisa João Cury. Segundo ele, “Não avançamos e as pesquisas internacionais mostram que o Brasil ainda é um dos países piores avaliados, a gente não sai do discurso, falta pessoas capacitadas, deixar de ser direita, esquerda, centro, para todos se unirem em prol de causas coletivas, justas, que evoluam”.

Quer saber mais? Acesse o vídeo acima, a entrevista está completa e com muito mais informações, direto ao assunto.