As comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo iniciam-se neste mês de fevereiro, mas Olímpia saiu na frente em outubro passado, com a inauguração  Estação Cultural (ECO) e tendo uma das exposições a de Flávio de Carvalho, uma coleção inédita, rara e que poderia estar em qualquer parede de um grande museu nacional ou internacional.

O Diário entrevistou o crítico de arte e curador independente Marcus Lontra que destacou a principal função da Semana de 22 para a história da arte brasileira: “a tentativa de rompimento com o conceito de arte da Europa, buscando o modernismo, o diálogo com o conservadorismo vigente no cenário cultural da época”. A entrevista na íntegra:

Não havia um conceito que unisse os artistas, nem um programa estético definido. A intenção era destruir o status quo. E eles conseguiram.

A Semana de Arte Moderna nasceu no momento que o mundo assistia ao fim de uma grande guerra e tudo se renovava nas estruturas mentais e políticas da sociedade. Foi um verdadeiro marco na história de São Paulo, considerada um divisor de águas na cultura brasileira. O evento – organizado por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da Independência – declarou o rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica. A defesa de um novo ponto de vista estético e o compromisso com a independência cultural do país fizeram do modernismo sinônimo de “estilo novo”, diretamente associado à produção realizada sob a influência de 1922.

Transgressor, revolucionário e livre são alguns dos adjetivos comumente utilizados como características do Modernismo

A Semana de Arte Moderna foi uma tentativa de intelectuais e artistas brasileiros de tentar, na verdade, apresentar uma proposta cultural, uma proposta estética, um Brasil que buscava se apresentar na década 20 com uma arte brasileira própria, quebrando a proposta Imperial de construir uma grande nação europeia nos trópicos mas, na verdade, foi um movimento antropofágico, antropofagia no sentido poético”, destacou Marcus.

“Era um país muito conservador, e ainda gente vê isso atualmente, então vieram novas propostas de crítica, principalmente rompendo com esse conservadorismo, a arte burguesa”, complementa o crítico e curador.

Marcus Lontra elogia a iniciativa do prefeito Fernando Cunha em recuperar a antiga Estação Ferroviária, transformando-a em Estação Cultural (ECO) e trazendo propostas de arte, completando a vocação turística das águas quentes, dos parques, mas também resgatando a verdadeira arte do interior, não só de Flávio de Carvalho, um grande mestre do interior paulista, José Antonio da Silva (São José do Rio Preto).

“Essa exposição de Flávio de Carvalho, sem modéstia nenhuma, poderia estar em qualquer museu do Brasil, uma coleção rara, nunca vista, particular, e que está na ECO, um grande modernista, provocador, sempre querendo romper com o ‘status quo’ da época, é um verdadeiro cometa da Arte, até o mais abusado”, ressalta Lontra. A exposição permanece na ECO até o final de maio.

Marcus revela que está realizando consultoria com o prefeito Fernando Cunha para resgatar outros patrimônios, inovar em revitalizações, inclusive na própria ECO, quando terá mais dispositivos de lazer e visitação, como novas exposições em julho, em um rodízio de artistas, e até um vagão ‘restaurante’ acoplado à Maria Fumaça, uma cafeteria para que a ECO se transforme também em um local de entretenimento.