Por Ivanaldo Mendonça — O real e necessário instinto de autopreservação, em última instância, assegura a manutenção, perpetuação e evolução das espécies. De forma harmônica, o Universo e tudo o que ele contém, administra, naturalmente, este que é um dos princípios regulatórios da vida. Considera-se salutar, inclusive, experiências envoltas pelo medo e a dor que, na medida adequada, preservam e mantêm a vida. Seria fatal não temer lançar-se à frente de um veículo em alta velocidade.

Autopreservação não significa estagnação e retrocesso, tampouco negação ou repulsa á vida. Guardadas as devidas proporções o instinto de sobrevivência exige que, sobretudo o homem, servindo-se da capacidade de pensar e do comportamento responsável, de maneira consciente e livre, assuma, constantemente, desafios que o promovam em todos os sentidos e dimensões. Autopreservação não é sinônimo de apatia; muito pelo contrário, sugere dinâmica, movimento.

Do ponto de vista psicológico ‘complexo’ é um sistema de pensamentos reprimidos cujo valor emocional pode gerar certos comportamentos patológicos. Contrário ao instinto de autopreservação, o complexo de autopreservação é destrutivo.

É cada vez mais comum encontrar pessoas que, tanto individual quanto coletivamente, desenvolvem esta enfermidade. De maneira geral, elas acumulam impressões negativas de experiências vividas, concluindo que devem defender-se, cuidar de si.

Sentimento de inferioridade e injustiça, não correspondência á expectativas, não valorização de competências e habilidades; não reconhecimento e traumas de cunho emocional figuram entre as possíveis causas dessa dor cujas principais defesas são a negação e resistência, e os principais sintomas a depressão, a ansiedade e o pânico.

As escolhas e reações das pessoas acometidas por este complexo provocam ainda mais sofrimento, sobretudo, quando seus gritos de dor, disfarçados de equilíbrio, não são percebidos e reconhecidos por aqueles aos quais querem provocar e/ou atingir.

A reação a esta onda avassaladora intimamente ligada á perda de sentido, consequência da crescente cultura da indiferença, exige de todos e de cada um de nós, sensibilidade, paciência, coragem e assertividade. “Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo” ensina Jesus (Mateus 5,13-16).

Negar-se a ser luz é abraçar as trevas! Negar-se a dar sabor é abraçar a morte! Consumir-se e doar-se por um amor maior é movimento intrínseco á existência humana.

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
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