Por Olmair Perez Rillo — Um elefante coberto por manto azul estrelado, tendo à sua frente belas bailarinas, abria o cortejo que seguia pelas principais ruas da cidade. Em suas costas, levava uma linda menina que distribuía sorrisos e beijos àqueles que aplaudiam.
Usando antigos megafones, aqueles tubos de lata em forma de cones, os palhaços repetiam com a população: “Hoje tem marmelada? Tem sim senhor! Hoje tem goiabada? Tem sim senhor! E o palhaço, o que é? É ladrão de mulher”!
Mais atrás, um antigo, mas bem cuidado caminhão, transportava duas motos prateadas, sobre as quais iam os motociclistas que, todas as noites, desafiavam o perigo no Globo da Morte. Acima deles, em um trapézio, dois jovens demonstravam, com movimentos cuidadosamente ensaiados, parte do que seria visto nos espetáculos que mais uma vez seriam apresentados na cidade.
Antigamente era assim, hoje não mais. A maioria dos circos de outrora foram extintos, restando apenas aqueles que teimam em seguir mostrando sua arte nos poucos terrenos disponíveis. Sem janelas fixas para o mundo, como que saindo de contos de fadas, estes abnegados seguem errantes pelas pequenas cidades do interior. Acordam todas as manhãs com uma visão diferente do sol, muitas vezes contando os trocados ganhos na noite anterior, para ver o que farão no decorrer do dia.
A paixão pelo picadeiro, no entanto, seguirá existindo debaixo das velhas lonas desgastadas pelo tempo durante as longas caminhadas pelas estradas da vida. O circo também continuará sendo o principal responsável pela formação dos casais que darão origem àqueles que – não se sabe até quando – levarão adiante esta arte milenar. Acreditamos ser este amor, demonstrado pela felicidade percebida nos olhos de cada artista, que os tornam cada vez mais admirados, respeitados e queridos pelo público, pois é absolutamente impossível alguém distribuir aquilo que não possui.
Em um determinado sábado, pela manhã, quem despertou atenções foi uma das suas netas que completaria nove anos no dia seguinte. Vendo algumas fotos antigas perguntou por que o vovô não fica lá em cima do picadeiro fazendo graça para as pessoas sorrirem? Sua avó bem que tentou explicar o motivo, mas a pequena insistia em dizer que ele ficava bonito vestido daquele jeito e todos, com certeza, iriam gostar e dar muitas gargalhadas.
Na matine do domingo, com a casa cheia, o espetáculo começou rigorosamente dentro do horário previsto. Quando os palhaços foram anunciados, para surpresa e alegria geral, com eles surgiu um senhor vestindo roupas vermelhas, um chapéu coco que lembrava Carlitos – o personagem imortal criado por Chaplin – uma grande flor no lado esquerdo do peito, sapatos enormes que mal conseguiam mantê-lo de pé.
O que acontecia, no entanto, é que ele, abusando das suas limitações físicas, equilibrava-se com dificuldades sobre as próprias pernas, dando a impressão de que seus gestos faziam parte das pantomimas. Terminada a apresentação, enquanto se despedia sob os aplausos entusiásticos da plateia, ele voltou seus olhos para a neta que pulava batendo palmas.
Naquela tarde, quase noite, ao ouvir os gritos de… vovô, vovô, vovô… o velho palhaço que fizera todo mundo sorrir, chorou.
Olmair Perez Rillo é de Penápolis (SP), Administrador de Empresas, Marketólogo e Palestrante Motivacional
Cronica muito bem escrita que nos faz lembrar uma arte milenar. O autor demonstra ter uma sensibilidade muito grande e engrandeceu ainda mais o Diário. Parabéns pela contratação.
Afonso, quisera fosse uma ‘contratação’. Um dia, o Diário recompensará regiamente os colaboradores. Por ora, é uma valiosa, sim, colaboração espontânea, onde todos nós ganhamos.