Por Ivanaldo Mendonça – Qual o maior dos mandamentos?” O Evangelho de Marcos (Mc 12,28h-34) coloca-nos diante de um fato, no mínimo, estranho: porque um mestre da lei fizera tal pergunta a Jesus? Afinal de contas ele era especialista no estudo e explicação da Lei, ou, Torá, o conjunto dos cinco primeiros livros das Sagradas Escrituras, ainda hoje, regra máxima para os judeus. Isto é tão verdadeiro que ele complementa, com propriedade, a resposta de Jesus, a ponto de receber elogio sem igual: “Você não está longe do Reino de Deus” (Mc 12,34).

Estamos diante de mais uma das tantas possibilidades concedidas pela Palavra de Deus que sempre nos surpreende com seu poder acolhedor, iluminador, confortante e transformador: ir alem da letra, das linhas escritas, perscrutando, sob a guia do Espírito Santo, o verdadeiro sentido e significado da mensagem.

Por certo, Jesus teria o direito e, para muitos, o dever, de não acolher a interpelação do mestre da lei, uma vez que nas demais situações semelhantes a esta, eles tramam contra Ele. No entanto, Ele acolhe, mais que a pergunta em si, aquele que o questiona.

Em relação ao maior mandamento, a resposta de Jesus recupera os valores ensinados desde a antiguidade, revelando, mais uma vez, o amor a Deus como ato permanente de intimidade e entrega total: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força”. A segunda parte da resposta incorpora o amor ao próximo como extensão de uma mesma realidade “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, ratificando: “Não existe mandamento maior do que estes”.

O amor a Deus não se vive pela metade, em compartimentos. Amá-Lo de todo ‘coração, alma, mente e força’ consiste no movimento único/integral empreendido na direção do Amado, como resposta consciente, livre e responsável Aquele que primeiro nos amou (1ª João 4,19). Na entrega e gratuidade o amor se faz, renova e fortalece. Reconhecendo-nos indignos, porém, escolhidos por Deus, descobrimo-nos não exclusivos, melhores ou piores que quem quer que seja; reconhecendo o outro, tão escolhido pelo amor de Deus quanto nós, assumimos amá-lo como irmão.

A dinâmica do mandamento maior é expressa no desenho da cruz: o traço vertical coloca-nos em comunhão com o coração de Deus; o traço vertical coloca-nos em comunhão com o coração daquele que a vida apresenta diante de nós, o próximo, de quem nos fazemos próximos. Negar-se a amá-lo é negar-se a amar a Deus, fonte do amor, é negar-se o amor próprio, uma vez que a dinâmica exige entrega e acolhimento.

Ao doutor da lei, mais que simplesmente responder Jesus amou, acolheu, entregou-se, independentemente das intenções de seu interlocutor. Mais uma vez o amor venceu!

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
[email protected]