A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, na última quarta-feira (4), uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a permissão para que a iniciativa privada realize a coleta e o processamento do plasma humano, com uma votação final de 15 votos a favor e 11 contra. A PEC do Plasma, como foi denominada, move-se agora para a apreciação em plenário e, caso receba aprovação, seguirá para análise da Câmara.

A proposição contrasta com a visão do Ministério da Saúde que, preocupado com as implicações da aprovação da medida, defendeu sua rejeição. As preocupações levantadas indicam que a proposta pode introduzir uma possibilidade para a doação remunerada de sangue, o que, por sua vez, poderia prejudicar o Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, a comercialização de sangue e seus derivados é proibida pela Constituição vigente.

Aspectos Relevantes e Debate Político

A relatora da proposta, senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB), inicialmente incluiu em seu texto a possibilidade de coleta remunerada de sangue. No entanto, a medida foi retirada subsequentemente, após a aceitação de uma emenda que solicitava a exclusão dessa seção do texto. Esta mesma emenda estabelece que uma lei futura deve regular os requisitos para a coleta, processamento e comercialização do plasma, tanto por entidades privadas quanto públicas.

Alguns parlamentares expressaram preocupação quanto ao eventual direcionamento do plasma e seus derivados para mercados internacionais. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), exemplificou que países mais ricos poderiam adquirir o insumo a preços elevados, o que poderia, em teoria, desabastecer o SUS. Adicionalmente, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, também manifestou resistência à PEC, citando possíveis repercussões negativas para a autonomia nacional e para o SUS.

Cenário Atual e Perspectivas Futuras

Presentemente, o SUS desembolsa mais de R$ 1,5 bilhão anualmente para a importação de medicamentos destinados a pacientes que dependem de hemoderivados. A totalidade da assistência a esses pacientes é fornecida pelo sistema público.

Hoje, 30% dos hemoderivados disponíveis no SUS provêm do plasma doado no Brasil, processado pela Hemobrás, empresa estatal responsável pela atividade. A expectativa é que esse percentual ascenda a 80% até o ano de 2025, à medida que a empresa conclui a transferência de tecnologia e realiza atualizações em seu parque fabril.

A discussão sobre a eficácia da Hemobrás permeou o debate entre os senadores, com críticas à eficiência da empresa sendo proferidas por aqueles que defendem o projeto.

Enquanto o cenário político se desenvolve e a proposta segue para o plenário, os olhos da nação estarão voltados para as próximas fases deste significativo e polêmico debate legislativo sobre a saúde pública brasileira.

NOS ESTADOS UNIDOS, PODE

Nos EUA, americanos podem vender plasma por 30 dólares — e tem gente que faz isso toda semana para conseguir dinheiro para compras. As indústrias farmacêuticas estimam que o mercado de hemoderivados no Brasil movimenta R$ 10 bi. (TheNews)